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Narrativa Shanenawa “A ratinha que ensinou a mulher a fazer partos” — Edital Sementes
PUBLICADO EM: 16 de agosto de 2021
A história abaixo foi enviada por Edilene, mulher do povo Shanenawa, explicando como o conhecimento tradicional dos partos veio através dos bichos
“A ratinha que ensinou a mulher a fazer partos”
Essa história é contada no povo tradicional Shanenawa, da terra indígena Katukina-Kaxinawa no município de Feijó. Meu nome é Edilene Machado, meu nome indígena é Pakakuru. Pakakuru significa resistência, taboca verde.
Há uma narrativa tradicional do povo Shanenawa, que os antigos contavam, que todas as mulheres que engravidavam acreditavam que iriam morrer. Porque havia apenas uma mulher que sabia fazer o parto. Mas em todos os partos, ela tirava o fígado da mãe, pra comer com pão de milho e sempre falava para os seus maridos que elas tinham morrido durante o parto. Por esse motivo, todas as mulheres indígenas ficavam com muito medo. As mulheres sempre morriam, deixando seus filhos para serem criados exclusivamente pelos pais.
Segundo os mais velhos, a ratinha Panakti que descobriu o segredo dessa primeira parteira, ensinando as mulheres que tinha outro jeito de fazer o parto. Daí a ratinha também recomendou às mulheres Shanenawa diversos cuidados e dietas, como não comer bodó, tapioca, não deixar o marido sair à noite e chegar para assustar a criança, não comer mandim, não deixar a criança ser vista antes de um mês.
A ratinha também teria recomendado às mulheres Shanenawa os cuidados e a dieta. Elas teriam passado a seguir.
O objetivo dessa história é refletir sobre a relação entre as mulheres e os mitos, para mostrar como diversos conhecimentos especificamente femininos foram dados às mulheres por seres não-humanos. E dentro desse conhecimento, as mulheres Shanenawa até hoje utilizam os saberes milenares ancestrais, que foram passados de geração em geração.
No Acre, as mudanças climáticas estão grandes, devido ao desmatamento e à falta de mata ciliar. As mulheres seguem plantando seus roçados, fazendo suas dietas, plantando, colhendo e tendo bem-viver. Cuidando dos seus filhos e crianças. Até hoje elas conseguem manter essa tradição.
O Edital Sementes tem como objetivo destacar narrativas que interligam questões de gênero e clima e que normalmente não encontram vazão nos espaços institucionais. São relatos orais transcritos, narrativas tradicionais, poéticas e outros que, ao serem reconhecidos, ajudam a adiar o fim do mundo.
Alguns dos materiais passaram por edição ou adaptação para melhor clareza e melhor leitura, às vezes reduzindo seu tamanho original.
“Este conteúdo não representa, necessariamente, a opinião do Observatório do Clima ou de qualquer um de seus membros.”
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