A solução da crise climática é anti-racista e anti-patriarcal

As mudanças climáticas não são apenas conceitos distantes e abstratos: elas têm impactos desproporcionais e profundos na vida de mulheres e meninas negras, quilombolas, indígenas e tantas outras.

A busca pela justiça climática requer a participação ativa de diversas perspectivas e vozes no debate e nas decisões, combatendo a desigualdade de gênero e o racismo.

Neste Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha (25/07), três mulheres que fazem parte do Grupo de Trabalho Gênero e Justiça Climática compartilharam suas visões sobre o tema.

Amanda Costa – fundadora do Instituto Perifa Sustentável

Numa sociedade estruturalmente racista e machista, a mulher negra é sempre estereotipada. Quando jovem é infantilizada, na idade adulta passa a ser hipersexualizada e quando fica mais experiente, sofre com a invisibilidade.

Estar consciente desse processo é o primeiro passo para desenvolver ferramentas para lutar contra esse sistema opressor. É necessário letramento racial, articulação com diferentes atores e criação de políticas antirracistas para reivindicar acesso aos direitos dos territórios de base, principalmente nas periferias, favelas e quilombos. E apesar desse imenso desafio, gosto de lembrar da música dos Racionais MC’s: “se o barato é louco e o processo é lento, no momento, deixa eu caminhar contra o vento.” Vou caminhar contra o vento e lutar contra um sistema que insiste em calar a minha voz. Até porque, a história do movimento negro é uma história de resistência, lutas e transformações sociais. E quer saber o mais potente?
Sei que não estou sozinha nessa batalha.

Xica da Silva – chefe de cozinha

Precisamos lutar pela democracia e políticas públicas que nos atendam. Políticas voltadas para a mulher, principalmente, as mulheres da periferia, que quase nada chega para a gente.

Nós mulheres negras, principalmente, sofremos muito com isso, porque o mercado de trabalho não nos absorve, e a gente precisa de juntar para gerar trabalho e renda.

E meu coletivo, nós conseguimos fazer isso. Eu me juntei enquanto economia solidária. Nós formamos grupos de trabalho, que são os empreendimentos econômicos solidários para gerar renda.

É lembrar que cada dia a gente precisa continuar lutando, é luta continuada.

 

 

 

Cínthia Leone – jornalista do ClimaInfo

A solução da crise climática é anti-racista e anti-patriarcal. E é exatamente por isso que ela enfrenta tanta resistência política e econômica, no Brasil e em nível global.

A crescente liderança política de figuras como a primeira-ministra de Barbados Mia Mottley, a ativista Vanessa Nakate de Uganda, e a ministra Marina Silva no Brasil e a vice-presidente da Colômbia Francia Márquez já são em si mesmo um fato histórico.

A ação dessas mulheres em defesa do clima em nosso planeta aponta para a transformação necessária que vai consertar nossos sistemas políticos machistas e racistas e, por isso, disfuncionais, tanto na arena internacional, como nos territórios. O protagonismo das mulheres em todo o Sul Global é a chave para um futuro com um clima seguro.

 

 

 

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