#Nota
Onde estão as mulheres nos espaços federais de governança climática?
ELABORAÇÃO: Jamille Nunes
PUBLICADO EM: 24 de junho de 2021
Relatório que analisa a presença e poder de deliberação de mulheres nos debates climáticos mostra que há pouca participação feminina nas decisões sobre políticas climáticas
Talvez você já suspeitasse que os espaços de governança de mudança climática são predominantemente ocupados por homens. Mas entender onde estão e como participam as mulheres nesses espaços institucionais de discussão da agenda ambiental e política nos ajuda a entender onde precisamos melhorar.
Uma fotografia dos espaços institucionais
Elaborado por Lígia Amoroso Galbiati e Júlia Campos, para o GT de Gênero e Clima do Observatório do Clima, o relatório “Equidade de gênero nos espaços de governança climática” analisou os papéis desempenhados por mulheres em seis espaços operantes na pauta da mudança climática.
O estudo se debruçou sobre os dados públicos dos seguintes espaços:
- a Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima (CIMGC) e Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima (CIM): dedicados à articulação governamental;
- o Grupo Executivo sobre Mudança do Clima (GEx) e GT Adaptação: voltados para a elaboração de políticas de clima;
- a Rede Brasileira de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede Clima) e Fórum Brasileiro de Mudança do Clima (FBMC): focados na discussão e no assessoramento técnico e científico.
(Vale ressaltar que, com a transparência de dados comprometida no governo atual, a checagem de registros se tornou também um desafio.)
Os dados de participação por gênero evidenciam que há pouca participação feminina nas decisões sobre políticas climáticas. Entre os espaços analisados, o Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima (CIM) apresentou maior discrepância, com 9% de convidadas mulheres e 12% de representantes com poder decisório. Logo em seguida, vem o Grupo Executivo (GEx), com uma diferença de 87% entre a participação de mulheres e homens na condição de representantes.
“Eu participei de reuniões do Fórum Brasileiro de Mudança Climática e da Estratégia Nacional de REDD+ e a percepção de quem organizava era que a quantidade de mulheres já significava representação. Mas muitas vezes elas estavam acompanhando quem decidia, ou elas iam só para anotar e reportar para suas instituições,” ilustra Joci Aguiar, do Observatório do Clima.
Analisando além dos números
De acordo com uma das autoras do relatório, Lígia Galbiati, “existe uma centralização dos discursos de gênero em aspectos relacionados à adaptação, onde se fala bastante da vulnerabilidade das mulheres. A adaptação é posta como algo menos científico, é menos visada na elaboração de metas climáticas, e é onde as mulheres predominam”.
Já quando se fala de redução das emissões de gases do efeito estufa (mitigação), a pesquisadora indica que isso muda de figura. “A mitigação carrega um escopo técnico-científico das ciências físicas e exatas, como climatologia e energia, que são áreas de conhecimento predominantemente masculinos.” Lígia também explica que nessa “divisão invisível” de conhecimentos está aplicada uma perspectiva de gênero também.
Além da presença de homens e mulheres, o estudo detalha que esses espaços são compostos, em sua maioria, por pesquisadores do sudeste do país e com formações em áreas de Ciências Exatas, da Terra e Biológicas. “Essa baixa representatividade regional, aliada a uma pequena variedade de áreas do saber, centraliza o debate sobre mudança climática em questões físicas, sem levar em consideração as questões sociais, igualmente relevantes,” observa Lígia.
Como melhorar esses espaços?
Diante desse cenário, o estudo aponta algumas recomendações, como a importância da diversidade humana na resolução de problemas. Ampliar a multidisciplinaridade de conhecimentos e a diversidade dos participantes da governança climática no Brasil é uma forma de garantir que a política climática atenda a realidade de populações em diversos contextos, considerando suas diferentes vulnerabilidades e contribuições para a solução.
A disparidade de gênero é uma questão a ser solucionada, mas traz com ela outras reflexões. É importante considerar as barreiras estruturais e as relações de poder que impedem mulheres e outros grupos marginalizados de participar dos debates e das decisões, tendo suas perspectivas e experiências respeitados nesses espaços institucionais.
“Este conteúdo não representa, necessariamente, a opinião do Observatório do Clima ou de qualquer um de seus membros.”
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