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A origem do fogo na floresta — Edital Sementes

PUBLICADO EM: 14 de setembro de 2021

A narrativa enviada por Erany explica, a partir da visão do povo Shanenawa, como surgiu o fogo na floresta.

A origem do fogo na floresta

"A origem do fogo na floresta"

por Edileuda Gomes de Araújo Shanenawa - Organização dos Professores Indígenas do Acre (OPIAC) | para Edital Sementes

Eu sou Edileuda, do povo Shanenawa. Meu nome na língua indígena é Erany. Eu trago aqui uma história do povo Shanenawa, que fala da origem do fogo na floresta.

No meio da floresta, morava um casal, que tinha um filho e criava um periquito. Certo dia o esposo dela saiu pra caçar, e no meio-dia nada do seu esposo voltar pra casa. Então ela fez o fogo pra fazer o mingau. Ela tinha um filho bebê e um periquito, e os dois choravam com fome, choravam bastante. O periquito chorava mais ainda que o seu bebê.

E ela com raiva da situação, dos dois, o periquito aperreando mais, ela disse “Ury xuqhua”, que quer dizer “sai daqui” e derrubou ele. No momento que ela empurrou o periquito, ele caiu no fogo e a brasa grudou no biquinho do periquito. O periquito voou e no que ele saiu voando para a floresta, com a brasa no bico, mais adiante a brasa caiu, no galho do cumaru.

E começou a pegar fogo por todo lado da floresta, e o fogo começou a se espalhar. E o seu esposo já estava voltando pra casa. Ele viu aquela fumaça e saiu correndo para as aldeias próximas, chamando seus parentes, que estava pegando fogo, ele dizia “vamos buscar uns pedaços de lenha, porque o tempo está se fechando, ventando muito” e começou a chover. Então todas as pessoas e animais se reuniram pra proteger o fogo.

Porque na floresta, antigamente, como a gente não tinha fogo pra quando apagasse fazer mais, eles queimavam bastante lenha pra não se apagar. E aí eles iam passando adiante. Então aquilo nunca se apagava. Por isso que ele chamou todos os parentes que morava longe. E como antigamente a história diz que os animais também falavam, ele convidou todos os animais, e todos foram buscar seus pedaços de lenha. Somente o urubu chegou por último, e quando ele chegou, já não tinha mais fogo, só tinha cinzeiro. O urubu pisou nas cinzas e por isso que até hoje a perna do urubu é cinzenta.

O Edital Sementes tem como objetivo destacar narrativas que interligam questões de gênero e clima e que normalmente não encontram vazão nos espaços institucionais. São relatos orais transcritos, narrativas tradicionais, poéticas e outros que, ao serem reconhecidos, ajudam a adiar o fim do mundo.

Alguns dos materiais passaram por edição ou adaptação para melhor clareza e melhor leitura, às vezes reduzindo seu tamanho original.

“Este conteúdo não representa, necessariamente, a opinião do Observatório do Clima ou de qualquer um de seus membros.”

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