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As mulheres indígenas: roçadeiras e artesãs — Edital Sementes

PUBLICADO EM: 17 de setembro de 2021

Larissa Ye’padiho, mulher indígena do Alto do Rio Negro, conta como é a relação das mulheres com a terra.

mulheres indígenas

“As mulheres indígenas: roçadeiras e artesãs”

por Larissa Ye'padiho Mota Duarte - DMIRN/FOIRN | para Edital Sementes

Nós, mulheres indígenas representadas por 23 povos do Rio Negro. Nós vivemos da roça, caça, pesca e artesanato. A terra e a nossa casa, fazemos o nosso próprio manejo. Derrubamos as árvores para fazer a roça. Plantamos e colhemos; depois da colheita, as árvores crescem novamente, fazendo recomposição natural. Quando vamos pra roça, nós, mães indígenas, levamos as nossas filhas para acompanharem e aprenderem como se planta, cuida e colheita. Pois é daí que tiramos a nossa farinha, beiju, frutas e remédios caseiros. Enquanto isso, nossos maridos levam nossos filhos para o rio, para ensinar como se pesca. E nas matas, como caçar. Pegam o suficiente para o nosso sustento. 

Nós mulheres somos artesãs, com argila fazemos panelas de cerâmica; com cipó, balaios naturais; com arumã, cestas; com tucum, bolsas e redes; com as sementes, colares. É a nossa renda familiar, é o nosso sustento.

Através do benzimento, nós nos protegemos. Nós nos fortalecemos. Nas danças e cantos tradicionais, expressamos os sentimentos. Através de histórias, passamos nossos conhecimentos aos nossos filhos. Através das constelações, acompanhamos as estações do ano. Porém, com as mudanças climáticas, as coisas mudaram completamente. Tudo está confuso. É a ação ambiciosa do homem não-indígena, que quer destruir a natureza para saciar seus anseios. Ele quer poder, ele quer dinheiro. Mas acredito que nós mulheres, independente das diferenças, vamos ter que estar juntas para lutar, para resistir, para o bem-estar da nossa nova geração.

O Edital Sementes tem como objetivo destacar narrativas que interligam questões de gênero e clima e que normalmente não encontram vazão nos espaços institucionais. São relatos orais transcritos, narrativas tradicionais, poéticas e outros que, ao serem reconhecidos, ajudam a adiar o fim do mundo.

Alguns dos materiais passaram por edição ou adaptação para melhor clareza e melhor leitura, às vezes reduzindo seu tamanho original.

“Este conteúdo não representa, necessariamente, a opinião do Observatório do Clima ou de qualquer um de seus membros.”

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