Painel na COP 27 ‘Mulheres na ação climática’ mostra que o equilíbrio está na coletividade

Painel na COP 27 ‘Mulheres na ação climática’ mostra que o equilíbrio está na coletividade

#ProduçãoTextual

Painel na COP 27 ‘Mulheres na ação climática’ mostra que o equilíbrio está na coletividade

ELABORAÇÃO: Tatiane Matheus*
PUBLICADO EM: 01 de dezembro de 2022
COP27: registro GT de Gênero e Clima

O Brasil é composto por seis biomas e um bioma depende do outro para manter o equilíbrio do climático do mundo. Daqui para frente vamos pensar que nós precisamos fortalecer todos os biomas. Em todos os biomas têm povos indígenas e comunidades tradicionais. Está na hora de deixar o individualismo falseado ambiental de lado. Não existe trabalho ambiental para um bioma. Tem que vir para todos os biomas. É ‘Fundo Biomas’ que precisa ser criado”, as palavras iniciais da líder indígena Shirley Krenak deu o tom ao painel sobre Mulheres na Ação Climática realizado no espaço da sociedade brasileira na COP27, o Brazil Climate Action Hub, na terça-feira, 8/11.

O Grupo de Trabalho Gênero e Clima, do Observatório do Clima, juntamente com as mulheres que participaram desta troca de experiências e ideias demonstrou que, sim, o equilíbrio é coletivo e não individual, como disse Shirley Krenak no início do evento. “Ecoamos juntos”, liderou a mediadora do primeiro painel, Karen Oliveira (TNC), que participaram Val Munduruku (Engajamundo e da IPLC), Ana Rosa Cyrus (GT de Gênero e Engajamundo), Selma dos Santos Dealdina (CONAQ e Fundo Casa) e Denise Hills (Natura&Co Latam). 

Para a ativista Val Munduruku, falar de justiça climática é falar das pessoas que estão sofrendo os impactos e de justiça social.  Destacou que a sua região, no Alto Rio Tapajós, no Pará, sofre fortemente com o impacto ambiental pelo garimpo ilegal. Devido a isto, as mulheres da região são as mais impactadas, muitas não querem mais engravidar pelo risco de contaminação dos bebês por mercúrio, além da violência existente no local que também viola corpos de crianças. Portanto, é importante ocupar espaços. “As mulheres estão lutando juntas. É uma luta unificada e precisa ser. Seja as pessoas que estão nos territórios, seja as pessoas que estão nos grandes centros urbanos. Mas como a gente ocupa estes espaços? Não é sobre dar voz, mas dar oportunidades para estarmos contando as nossas narrativas”, explica Val.

A representante da juventude Ana Rosa Cyrus trouxe que, para falar sobre gênero, é preciso, primeiramente,  olhar que o  movimento climático é representado, em sua maioria, por homens brancos. Logo, é preciso descolonizar e que as ações passem a ser lideradas por quem mais sofre as consequências da emergência climática, ou seja, as mulheres, juventudes, LGBTQI+ e outras minorias. Elas precisam ser protagonistas da luta ambiental e climática, já que são as que mais sofrem com tudo isso. “Quando a gente dialoga sobre mulheres e clima, a gente precisa discutir quais os mecanismos de silenciamento que existem. (…) Não é toda e qualquer mulher que pode falar de dentro desses espaços”, ponderou Ana Rosa. 

Selma dos Santos Dealdina, representante do movimento negro, vai ao encontro da fala de Ana Rosa ao exemplificar que o papel das mulheres quilombolas foi invisibilizado ao longo da história do país. “Escurecendo a pauta, hoje nós somos visíveis. A comunidade quilombola há décadas e séculos estão aí. Ou as nossas matas não estariam de pé e nossa ancestralidade não estaria mantida”, esclareceu.  De forma coletiva, as comunidades quilombolas preservam seus territórios — existentes em vários biomas. Destacou a destruição ocorrida no país nos últimos anos e que será preciso uma grande reconstrução com a voz de todos.

Por sua vez, Denise Hills, que representou o setor privado neste painel, destacou a irritação que sente quando ouve que as mulheres são minoria, já que elas representam metade do país e que a solução das questões climáticas virá apenas com o empoderamento delas. “O mundo é 50% de mulheres, o Brasil é mais de 50% preto. Não existe inclusão de minorias. Existe a gente se incluir e se ver como a realidade; representar isso na tomada de decisões para a gente garantir direitos, realidades, vocação dos países de acordo com as pessoas que lá vivem, com a vocação desse lugar”, analisou.

 

União será a força — Uma das mediadoras do segundo painel, Joci Aguiar (GT de Gênero e GTA), o iniciou animando a plateia ao dar destaque sobre a importância da união das várias organizações presentes para ter espaços mais participativos e democráticos no novo governo eleito. Participou também dessa roda de conversa Joana Amaral (GT de Gênero e Observatório do Clima) que destacou o trabalho do GT de Gênero e Clima, que é uma potência dentro do Observatório do Clima e conta com 160 mulheres de várias instituições. 

Para conduzir o trabalho em rede, há dois grandes documentos. Primeiro, o infográfico que explica o porquê de gênero e  clima ao trazer dados sobre a diversidade que há entre as mulheres, logo, impactos distintos; impactos de políticas e obras onde mulheres não participam e sobre as soluções, as quais as mulheres já estão trabalhando. “Conseguir projetos que trabalham com a diversidade das mulheres, ações que trabalham com aspectos de políticas e de obras, ou seja, como as mulheres são impactadas por essas obras e o que isso significa por perdas econômicas. (…) E falar de soluções”, explicou Joana.  O outro destaque é o estudo “Quem precisa de Justiça Climática no Brasil?”. Participaram Sheila de Carvalho (Peregum), Maria Amália Souza (Fundo Casa), Fernanda Lopes (Instituto Baobá), Andréia Coutinho (GT de Gênero e especialista em Justiça Climática) e Letícia Maria R.T. Lima (GT de Gênero e especialista em Justiça Climática). 

Sheila elogiou o trabalho realizado pelo GT e acrescentou: “Vocês que acompanham a COP por tanto tempo, sabem como foi negligenciado o debate de gênero. Isso não é somente sobre COP, mas também sobre espaços da ONU e de sistemas internacionais de proteção de Direitos Humanos que tem a sistemática de silenciar a luta das mulheres, a produção intelectual de mulheres e isso a gente vê também no campo das mudanças climáticas. Uma material desses que aponta todos os gargalhos e o que nos foi tirado nesses processos é muito importante”. 

Ainda acrescentou a importância da interseccionalidade no debate de gênero e clima.  Corroborou que as mulheres são as mais impactadas e quem ainda não se tem a real gravidade do problema. Exemplificou que existe um estudo da Universidade da Califórnia, que apontou o risco de partos prematuros  devido ao aumento médio da temperatura do planeta em mulheres. Para as não negras, o risco é de 7%,  mas salta para 15% entre mulheres negras.  “Se o problema nos afeta, temos que ser a parte da solução”, opinou Sheila.

A jornalista Andréia Coutinho explicou que existem muitos artigos acadêmicos sobre Justiça Climática, mas apesar do conteúdo sobre o norte global, ainda falta trazer a ótica do sul global. “A gente precisa construir este conceito (de justiça climática) a partir de quem realmente vive as realidades das injustiças climáticas e elas ocorrem nos territórios”, informou Letícia e completou: “O gênero e a raça não podem ser discussões separadas da crise climática, eles têm que ser centrais”. Ambas foram as coordenadoras do estado “Quem precisa de justiça climática no Brasil?”.

COP27: registro GT de Gênero e Clima

Projetos – Para Maria Amália, que falou sobre filantropia, é preciso ouvir as comunidades para saber o que precisa ser feito e olhar como os biomas funcionam e quem mais precisa para a salvação desses lugares. Ao longo dos anos de seu trabalho socioambiental, ela observou que a maioria dos projetos eram liderados por mulheres e que é importante apoiar as comunidades que estão na linha de frente da preservação ambiental e da transição justa, já que são as mais afetadas. Para isso, é primordial que também tenham um fortalecimento institucional e que esses projetos possam se autogerir.  

Já Fernanda Lopes contou a trajetória do Instituto  Baobá, que surgiu após a escuta ativa com mais de 190 organizações negras no Nordeste brasileiro, a maioria liderada por mulheres, para responder as necessidade da população negra do Brasil. Assim a fundação foi se organizando para captar recursos, dentro e fora do Brasil, para que estes recursos chegassem até as bases.  Explicou ainda que a Fundação Kellogg se comprometeu para entregar uma contrapartida para a instituição ter um fundo patrimonial. “Hoje estamos apoiando mais de 200 projetos financiados pelo Baobá. Prioritariamente, organizadas por mulheres e cerca de 89% não tinha acesso à filantropia”, explicou e demonstrou sobre como esses investimentos fazem a diferencias àqueles que sofrem com as mudanças climáticas. “A solução está nas pessoas e nas comunidades”, acrescentou.

Lígia Amoroso (GT de Gênero) foi a mediadora da terceira parte do evento. A pesquisadora  Patrícia Pinto (IPAM e IPCC) explicou que, partir de 2018, o relatório passou a levar em conta as desigualdades, incluindo questões de gênero. O IPCC, hoje, vem fazendo o esforço de incluir mais mulher, hoje já são 40% de autores do IPCC.

Confira o painel na íntegra na página do Brazil Climate Action Hub:

https://www.brazilclimatehub.org/agenda/mulheres-na-acao-climatica-v2/

 



(*) Tatiane Matheus é jornalista e pesquisadora em Justiça, Equidade, Diversidade e Inclusão no Instituto ClimaInfo.

“Este conteúdo não representa, necessariamente, a opinião do Observatório do Clima ou de qualquer um de seus membros.”

Lançamento: quem precisa de justiça climática no Brasil?

Lançamento: quem precisa de justiça climática no Brasil?

#Estudo

lançamento: quem precisa de justiça climática?

PUBLICADO EM: 09 de agosto de 2022

Donana reside no primeiro quilombo do país, na Bahia. Ela foi uma das participantes do estudo “Quem precisa de justiça climática no Brasil?”

SOBRE O ESTUDO

Após um ano e meio de produção, é com muita honra que anuncio o lançamento de um projeto que tenho muito orgulho de fazer parte. Em uma combinação de muita pesquisa, entrevistas e ilustrações, nasceu um livro. A publicação direciona o olhar para a realidade brasileira e lança a pergunta: quem precisa de justiça climática no Brasil? As reflexões apresentadas apontam para a necessidade de compreensão sobre o que a justiça climática realmente significa. Buscando pavimentar o caminho para essa conceituação a partir de perspectivas interseccionais, ouvimos algumas das vozes que protagonizam o tema no país para entender quais são suas cores, raças e etnias, seus caminhos de luta, percursos de vida e atuações, dentre outras perspectivas que, quando analisadas em conjunto, evidenciam as múltiplas realidades e injustiças vividas por essas pessoas.

Prefaciado por Marina Silva, as reflexões apresentadas nos ajudam a entender a crise climática como mais um eixo de opressão que, quando analisado à luz da interseccionalidade, revela que os impactos das mudanças do clima são ainda mais acentuados para mulheres negras, indígenas e quilombolas, de comunidades rurais, pesqueiras e marisqueiras, periféricas e moradoras de favelas. Elas são, portanto, o foco desta publicação. Fatores ambientais e climáticos reforçam desigualdades já existentes e criam abismos de extrema marginalização para mulheres que fazem parte dessas intersecções.

Quem precisa de justiça climática

AGENDA PROPOSTA

12h10: Boas-vindas e vídeo explicativo da concepção do estudo
12h15: Apresentação do painel de discussão sobre o estudo com a presença de:

  • Xica da Silva (defensora ambiental e co-autora do livro);
  • Sylvia Siqueira (pré-candidata a deputada estadual em Pernambuco e defensora dos direitos humanos).

Assista a roda de conversa com as co-autoras do livro e convidadas para responder a indagação que orientou a investigação. Afinal, quem precisa de justiça climática no Brasil?

“Este conteúdo não representa, necessariamente, a opinião do Observatório do Clima ou de qualquer um de seus membros.”

Jô Santin e o desejo da terra produtiva | Mulheres que Restauram

Jô Santin e o desejo da terra produtiva | Mulheres que Restauram

#MulheresQueRestauram

Jô Santin e o desejo da terra produtiva | Mulheres que Restauram

PUBLICADO EM: 21 de dezembro de 2021

Nascida em Faxinal dos Guedes (SC) e filha caçula de pais agricultores, Joscimar Marins Santin, Jô, como gosta de ser chamada, diz ter se encontrado no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). “Quando casei com o Vilson Santin, hoje diretor do MST em Santa Catarina, eu comecei a viver mais a vida e a ver o quanto é importante a gente se desafiar. Nós mulheres somos capazes de tanta coisa e às vezes a gente mesmo se diminui. Mas eu vejo, aqui no assentamento, que as mulheres estão começando a sentir confiança e estão se desafiando a serem coordenadoras do núcleo, por exemplo, tendo cada vez mais voz e vez”, afirma Jô.

Hoje eles moram junto com outras famílias no Assentamento Anita Garibaldi, localizado no município de Ponte Alta (SC). “Quando a gente chegou aqui no Assentamento, a 18 anos atrás, esse espaço era cheio de samambaia e um capim que, quando a gente ia limpar a área, cortava as nossas mãos. Então a gente transformou esse local num pedacinho de paraíso”, relembra Jô ao andar pela horta orgânica de onde hoje eles tiram o sustento.

Feijão de vara, repolho, milho-verde, alface, beterraba, cebola, tomate, morangos.. estes são só alguns exemplos dos produtos cultivados por ela, que adora trabalhar com a terra: “a gente cultiva a terra e a terra cultiva a gente”, menciona junto da afirmação de que a nossa maior riqueza é a natureza: “é de fundamental importância nós sempre estarmos cuidando da natureza, protegendo o solo e plantando frutíferas. Esse é o bem maior que a gente tem, isso nos faz viver. Viver com alegria e viver bem.

Em Santa Catarina, o MST assumiu a meta de plantar 4 milhões de árvores nos próximos 10 anos. Esse objetivo faz parte do Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis e já está sendo colocado em prática, inclusive com a ajuda da Apremavi, que forneceu mudas para a realização de plantios como o que ocorreu em 17 de abril no Assentamento Filhos do Contestado, onde 3.500 árvores foram plantadas.

Em fase de implementação, os Assentamentos Filhos do Contestado, Neri Fabris e Anita Garibaldi, são acompanhados diretamente por Jô, que atua na articulação entre as mulheres dessas comunidades e apoia a implantação de sistemas agroecológicos. “Nós mulheres do MST somos guardiãs das sementes, que são nosso patrimônio. A nossa rede cuida, planta e também realiza troca de sementes, além de focar na aprendizagem sobre biofertilizantes”, informa a agricultora que acredita que o plantio diversificado e o cuidado com o solo são fundamentais para manter a terra produtiva.

Jô também faz parte da Brigada Sepé Tiarajú, uma articulação que envolve 14 assentamentos do Estado em busca do fortalecimento do movimento e da defesa dos territórios. “Quando a gente quer a terra não é só a terra em si; a partir da terra nós vamos lutar por mais conquistas. Nós que somos agricultores, nós que cuidamos da terra, temos o compromisso de produzir alimentos e plantar árvores. Terra é vida e vida é mudança para todos”, comenta Jô.

O sexto capítulo da Série Mulheres que Restauram conta a história de Jô Santin, integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra de Santa Catarina. Fotos e vídeo: Acervo Apremavi.

Mulheres que Restauram

​Este é o sexto capítulo da série Mulheres que Restauram. O episódio de estreia foi ao ar no Dia da Terra, com a história de Ercília Felix Leite. O segundo episódio, lançado no dia 24 de setembro, trouxe a história de Dona Helena. O terceiro episódio compartilhou a trajetória de Edilaine Dick no dia 13 de outubro. O quarto episódio, lançado no dia 28 de outubro, lançou a história de Josefa Machado Neves. E no quinto episódio, que estreiou no dia 22 de novembro, a série compartilhou a história da indígena Olinda Yawar.

Mulheres que Restauram é uma iniciativa da Apremavi na Década das Nações Unidas para a Restauração de Ecossistemas, com apoio do GT de Gênero e Clima do Observatório do Clima, e tem o objetivo de divulgar histórias de mulheres protagonistas na restauração e no planejamento de propriedades e paisagens, como forma de conscientizar a sociedade sobre a importância da atuação feminina na mitigação da crise do clima e promover o plantio de árvores nativas e a recuperação de áreas degradadas.

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“Este conteúdo não representa, necessariamente, a opinião do Observatório do Clima ou de qualquer um de seus membros.”

Olinda Yawar e o cuidado com a terra | Mulheres que Restauram

Olinda Yawar e o cuidado com a terra | Mulheres que Restauram

#MulheresQueRestauram

Olinda Yawar e o cuidado com a terra | Mulheres que Restauram

PUBLICADO EM: 22 de novembro de 2021

“Trabalhar com restauração é realmente uma questão de gostar, de pensar num futuro, porque o que temos visto é que não temos outra opção,” essa é a mensagem de Olinda Yawar, indígena que estrela o quinto episódio da Série Mulheres que Restauram.

 

Olinda Yawar mora na Terra Indígena (TI) Caramuru – Paraguaçu, localizada na região Sul da Bahia. “Essa é uma região da Mata Atlântica, mas tem sofrido muito com as mudanças climáticas. A precipitação de chuva que antigamente era muito mais intensa, agora está cada vez mais escassa”, observa Olinda que, em 2016, junto com o marido, Samuel Wanderley, e apoio dos caciques e anciãos da comunidade, criou o Projeto Kaapora.

O projeto nasceu de uma vontade da comunidade indígena de restaurar o próprio território, um território que se encontrava bastante degradado e morto no sentido de biodiversidade“, relembra a indígena que vê o processo de restauração da terra ancestral também como um resgate do espírito protetor da comunidade.

A TI tem ao todo 54.100 hectares dentre os quais 27 hectares, antes cobertos majoritariamente por pastagem, são cenário para o projeto piloto de replantio da cobertura vegetal, preservação dos remanescentes de floresta e implantação de apiários, meliponários e outros sistemas agroecológicos e de uso sustentável.

A primeira coisa que fizemos quando começamos a trabalhar aqui foi cercar a área, porque nós temos vizinhos que criam gado. Depois começamos a plantar árvores nativas”, fala Olinda. No total já foram plantadas mais de 2 mil árvores na área e outras tantas plantas regeneraram sozinhas.

Segundo Olinda os resultados da restauração já são visíveis: “temos percebido que os animais estão retornando, que as plantas estão começando a se virar sozinhas, e que as sementes de árvores estão começando a nascer espontaneamente. Também começaram a aparecer Psitacídeos que vêm todas as tardes e ficam na castanheira”.

Além da própria comunidade, quem também acompanha os resultados são os grupos de estudantes da região que visitam a área em busca de ensinamentos sobre o cuidado com a terra. “Trazer estudantes é importante porque temos como mostrar para eles o que está aparecendo de novo na mata”, afirma Olinda ao esperar que outras pessoas comecem a fazer o mesmo dentro dos seus espaços: “não temos outra opção; a opção é cuidar da terra. Cuidando da terra nós também estamos cuidando da gente”.

Em 2019, a Comunidade Indígena Pataxó Hãhãhãe decretou a criação da primeira Área de Proteção Ambiental no âmbito da TI, chamada de APA Kaapora em função do projeto.

O quinto capítulo da Série Mulheres que Restauram conta a história da indígena Olinda Yawar, criadora do Projeto Kaapora. Fotos e imagens: Yawar Filmes.

Mulheres que Restauram

Este é o quinto capítulo da série Mulheres que Restauram. O episódio de estreia foi ao ar no Dia da Terra, com a história de Ercília Felix Leite. O segundo episódio, lançado no dia 24 de setembro, trouxe a história de Dona Helena. O terceiro episódio compartilhou a trajetória de Edilaine Dick no dia 13 de outubro. E o quarto episódio, lançado no dia 28 de outubro, lançou a história de Josefa Machado Neves.

Mulheres que Restauram é uma iniciativa da Apremavi na Década das Nações Unidas para a Restauração de Ecossistemas, com apoio do GT de Gênero e Clima do Observatório do Clima, e tem o objetivo de divulgar histórias de mulheres protagonistas na restauração e no planejamento de propriedades e paisagens, como forma de conscientizar a sociedade sobre a importância da atuação feminina na mitigação da crise do clima e promover o plantio de árvores nativas e a recuperação de áreas degradadas.

“Este conteúdo não representa, necessariamente, a opinião do Observatório do Clima ou de qualquer um de seus membros.”

Planos Setoriais: Energia

Planos Setoriais: Energia

#NotaTécnica

PLANOS SETORIAIS: ENERGIA

ELABORAÇÃO: IZANA RIBEIRO, LÍGIA GALBIATI, NARA PEROBELLI E RODOLFO GOMES
PUBLICADO EM: 18 de novembro de 2021

 

Acesse a íntegra do documento aqui.

Planos setoriais

1. SUMÁRIO EXECUTIVO

  • Os impactos das mudanças climáticas atingem de forma e intensidade diferentes os diversos grupos da sociedade. 
  • As questões energéticas (produção, consumo, mercado de trabalho) também são refletidas e vivenciadas de forma diferente por mulheres ao redor do mundo.
  • O PDE 2030 (Plano Decenal de Energia 2030), como um instrumento de auxílio para o alcance das metas de redução, mitigação e adaptação às mudanças do clima, deve abordar e incluir a questão de gênero em seu desenvolvimento.
  • Contudo, a relação entre energia, gênero e mudança do clima está ausente do PDE, um dos principais documentos de planejamento do setor energético brasileiro. É fundamental a inserção desses temas para o enfrentamento justo da problemática do clima no país.

2. APRESENTAÇÃO

A Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), instituída em 2009 pela Lei nº 12.187, oficializou o compromisso do Brasil com a redução de emissões de gases de efeito estufa. Além disso, por meio do Decreto nº 7.390/2010, revogado pelo Decreto nº 9.578/2018, foram considerados alguns planos de ação e setoriais para auxiliar no alcance das metas de redução, mitigação e adaptação às mudanças do clima. 

Nesse contexto, é necessário identificar como as questões de gênero estão inseridas nas políticas setoriais do clima no Brasil. Para isso, busca-se realizar um diagnóstico dos planos setoriais, objetivo principal das Notas Técnicas – Planos Setoriais. Elas verificam se existem e, em caso afirmativo, como se apresentam as questões relativas a gênero e a populações étnico-raciais nos seguintes planos:

    • Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal – PPCDAm;
    • Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado – PPCerrado;
    • Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura – Plano ABC;
    • Plano Setorial de Redução de Emissões da Siderurgia;
  • Plano Decenal de Expansão de Energia – PDE.

No presente trabalho, será feita a análise do Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE). Como o nome já indica, esse documento apresenta as perspectivas para o setor no período de dez anos. Ou seja, o atual PDE, publicado em 2021, realiza uma prospecção de médio prazo para os próximos dez anos (por isso se chama PDE 2030). Ademais, o PDE é atualizado anualmente desde 2006.

Antes da análise, apontaremos a relevância da energia (em suas diversas formas) na sociedade, traremos alguns casos que ilustram o impacto da energia especificamente na vida das mulheres, e apresentaremos algumas definições que conectam energia, mudanças climáticas e gênero. Depois, analisaremos o PDE 2030 de acordo com a metodologia criada para a análise dos planos setoriais. Por fim, apresentaremos os resultados, as suas respectivas implicações e algumas recomendações para a inserção prática do tema de gênero nas políticas setoriais.

 

3. INTRODUÇÃO

A energia é um bem essencial, com potencial de promover o desenvolvimento econômico e a qualidade de vida das pessoas. Ela está na base da própria construção material da vida, tanto nas tecnologias quanto nas suas infraestruturas que permitem o uso dos serviços de energia dos quais precisamos.

O uso de energia para usufruirmos dos serviços energéticos permeia todo nosso cotidiano: está presente na iluminação, na comunicação, no transporte e na refrigeração. Não se restringe apenas a acender uma luz, assistir a um programa ou refrigerar alimento para conservá-lo por mais tempo. A lâmpada, a tevê e a geladeira precisaram de energia para serem fabricadas, embaladas e transportadas até nós. A lâmpada precisou de vidro, de plástico, de metal, de componentes eletrônicos, os quais por sua vez precisaram ser produzidos, embalados e transportados para a fábrica produzir a lâmpada. Para serem transportadas, precisam de infraestrutura como estradas, ruas, ferrovias, hidrovias, gasodutos, linhas de transmissão e distribuição de eletricidade. Note, portanto, que tudo isso configura um grande e emaranhado sistema técnico e social (sociotécnico), cada um condicionando o outro.

Mas, afinal, como as questões de gênero se relacionam com energia? Ao redor do mundo, os padrões de gênero são refletidos nos comportamentos e nas práticas relacionadas com a produção e o consumo de energia. Ao mesmo tempo, essa produção e esse consumo são experimentados de formas diferentes, por exemplo, por mulheres, homens (gênero binário) e outras múltiplas identidades de gênero (não binário).

Danielsen (2012) constata que a pobreza energética tem o rosto de mulher, embora Reddy et al. (2000) tragam uma visão mais ampla, e acertada do nosso ponto de vista, de que esse é o rosto da pobreza, sendo a energética apenas uma de suas dimensões. Mesmo que homens e mulheres sejam afetados e sofram com a pobreza energética, as mulheres são desproporcionalmente mais impactadas. Suas demandas, pontos de vista e participação têm sido, persistentemente, excluídas do exercício da política ao longo do tempo. 

As consequências da marginalização da mulher, ao tratar-se de suas demandas de energia, são graves. Danielsen (2012) cita alguns exemplos desses efeitos, sobretudo ao considerar o tempo empregado na coleta de biomassa (como lenha, gravetos, galhos) para ser queimada nos fogões das residências: a saúde das mulheres e meninas é precária, as oportunidades para ganho e geração de renda são mínimas, há a restrição das interações sociais e políticas, entre outras consequências adversas (Quadro 1). Essas condições reforçam a exclusão da mulher dos espaços nos quais ela deveria ocupar para reivindicar seus direitos.

Quadro 1: As teias do ato de cozinhar

Fatma Mziray, tanzaniana de 38 anos, cozinhava as três refeições diárias para sua família em um fogão a lenha tradicional, seguindo o ritual de tantas outras mulheres de sua região e de tantas outras partes do mundo. 

Tais fogões, normalmente, estão dentro das cozinhas e não possuem chaminés. Ela tinha que coletar grandes quantidades de lenha todos os dias como combustível para o café da manhã, almoço e jantar. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a poluição do ar dentro de cozinhas, como a da família de Fatma, pode ser cem vezes mais alta do que o limite permitido de poluição de partículas finas. 

As consequências, infelizmente, são mortais. Cerca de 4 milhões de pessoas morrem prematuramente a cada ano por doenças causadas pela poluição doméstica do ar, segundo a OMS. As mulheres e crianças são as mais expostas a esses ambientes, devido à “divisão” sexual doméstica do trabalho. 

Chegou à Fatma, por meio de outra mulher de sua região, a notícia de um fogão a lenha que faz a queima de uma forma mais eficiente e por um preço que cabe em seu bolso. Ela comprou e, segundo ela própria, “agora, com o fogão a lenha melhorado, a mesma quantidade de lenha [que usava para fazer as refeições em um dia] pode durar até três semanas”. Sobre o impacto na sua família de 8 pessoas desde que passou a usar o novo fogão, diz que “ninguém tem ficado doente ou ido ao hospital por causa de gripe”. Para saber mais sobre a história de Fatma, clique aqui (em inglês).

Ainda concernente às mulheres, segundo Oparaocha e Dutta (2011), a pobreza energética é um problema que afeta mulheres e meninas, de forma desproporcional em relação aos homens, principalmente em países em desenvolvimento. Reddy et al. (2000, p.44) definem pobreza energética como a ausência de escolhas em acessar serviços energéticos adequados, confiáveis, de qualidade e seguros para dar suporte ao desenvolvimento econômico e humano (Quadro 2).

Quadro 2: Ilustrando o conceito de acesso à energia

Entendemos como acesso à energia mais do que o seu acesso exclusivamente físico, ou seja, mais do que ter conexão a uma fonte de eletricidade (rede elétrica ou gerador local) ou ter à disposição um combustível (gás de cozinha, álcool, querosene, vela, lenha e outros). 

Trata-se do acesso a serviços energéticos adequados, por um preço acessível, confiáveis, de alta qualidade, seguros e ambientalmente benignos. A iluminação é um exemplo de serviço energético de que precisamos, que pode ser prestado por lâmpadas elétricas, velas, lenha, candeeiros, lanternas e outros. Já a qualidade, o preço, o impacto ambiental (poluição, por exemplo) e essas outras características do serviço energético de que precisamos para iluminar um local são diferentes para cada uma dessas tecnologias e fontes de energia.

Para dar um exemplo, indicamos alguns depoimentos sobre os impactos que a chegada da iluminação elétrica trouxe para algumas mulheres africanas que não tinham eletricidade em suas casas (sem esquecer da declaração da Fatma no Quadro 1, para o caso do serviço de cozimento dos alimentos):

“Antes, era difícil ir para fora de casa com a lanterna a querosene por causa do vento.”

“[Agora posso] Coletar água à noite.”

“A lanterna solar permite que eu faça mais cestas, o que me faz ter lucro maior.”

“Meu filho na sétima série está entre os 10 melhores alunos agora porque ele pode estudar [mais à noite].”

“Agora professores me dizem que minha criança é a melhor, então estou feliz.”

“Eles [filhas e filhos] não têm mais desculpas para não estudar desde que tem luz depois de escurecer.”

As histórias são ao mesmo tempo inspiradoras e inquietantes. Para saber mais, leia nessa avaliação de impacto. Os depoimentos acima foram retirados dela.

Para abordar esse problema, Oparaocha e Dutta (2011) tecem recomendações para a formulação de políticas públicas que incluam a questão de gênero e reduzam a pobreza energética, tais como: investir em tecnologias direcionadas às demandas energéticas de mulheres em situações de pobreza; promover a geração de renda, a produtividade e, consequentemente, o valor do trabalho dessas mulheres (Quadro 3); incluir e documentar análises de gênero em cada etapa de um projeto; desenvolver a capacidade das mulheres de trabalhar e se engajar com questões de gênero no setor de energia.

Clancy, Skutsch e Batchelor (2003) ainda reforçam que as ferramentas utilizadas por planejadores do setor de energia não incorporam os aspectos de gênero, sendo um desafio para a aplicação prática das recomendações.

Quadro 3: Quando a abordagem de gênero em energia expande a visão tradicional

Centenas de milhões de pessoas não têm acesso à eletricidade no mundo e iluminam suas casas com velas, lenha, candeeiros, lanternas ou nem isso.

Duas mulheres resolveram se juntar a outras para criar uma empresa social e levar eletricidade a essas casas na África, atuando na redução da pobreza energética através do empoderamento das mulheres locais e da geração de renda. Elas recebem capacitações e orientações para comercializarem equipamentos abastecidos por energia solar (como lâmpadas, ventiladores, rádios, carregadores de celular), fogões eficientes a lenha e outros produtos para suas comunidades. 

De acordo com o projeto, já são mais de 4,3 mil mulheres e 700 homens que se transformaram em comerciantes, beneficiando uma população de mais de 1,7 milhão de pessoas em 2020. Essa capilaridade só se tornou possível graças à aposta feita nas redes de contato social das mulheres, criando outras redes de credibilidade e confiança em todo esse trabalho. Quando perguntadas sobre o que a palavra empoderamento significava para elas, algumas das respostas foram: “significa uma mulher recebendo lucros por causa do negócio que ela está fazendo”, “significa que eu posso pagar minhas despesas de forma que eu posso progredir na vida” e “eu sei de algo que talvez outra pessoa não saiba, então falar para elas sobre isso é empoderador”.

Logo, é fundamental incluir a temática de gênero no planejamento energético e em seus planos setoriais para que esse seja formulado de forma justa e correta. Buscando analisar a presença da pauta de gênero no planejamento energético brasileiro, selecionou-se o Plano Decenal de Expansão de Energia 2030 para a realização de uma varredura inicial e identificação de termos relacionados à questão de gênero.  

O Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) é um documento informativo elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), com o apoio da Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Energético (SPE/MME) e da Secretaria de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (SPG/MME). 

O PDE é publicado anualmente e seu objetivo principal é indicar as perspectivas do setor de energia para um período  de 10 anos. É importante ressaltar que se trata de um planejamento do setor e não deve ser considerado como um plano estático. Ou seja, há indicações e sinalizações sobre a oferta e a demanda de energia que visam apoiar as decisões dos principais agentes do setor (EPE/MME, 2021). 

O PDE 2030 é desenvolvido com base nas dimensões do planejamento energético e considera as esferas econômicas, estratégicas, sociais e ambientais do país em suas projeções e cenários. No âmbito social e ambiental, a expansão da oferta de energia deve ser feita considerando o amplo acesso à energia e os aspectos socioambientais (EPE/MME, 2021). A análise aqui proposta verifica se o Plano Decenal de Expansão de Energia contempla, de fato, as questões sociais (nas quais as relações de gênero estão inseridas). Mais especificamente, esta Nota Técnica investiga se a questão de equidade de gênero está presente no planejamento energético brasileiro (em seus planos setoriais atuais). 

Ademais, de acordo com o Decreto nº 9.578, de 22 de novembro de 2018, o PDE é considerado pela Política Nacional sobre Mudança Climática (PNMC) como um dos planos setoriais de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Em outras palavras, o PDE precisa incorporar a temática do clima em suas análises, visando “reduzir a vulnerabilidade dos sistemas naturais e dos humanos” (Brasil, 2018). 

Embora não seja o foco deste documento, entendemos como necessário deixar os seguintes registros e definições sobre a interconexão entre mudança do clima e equidade de gênero, nas quais a energia tem um papel importante, para que esses temas e suas articulações não sejam tratados de forma reducionista:

  • Afinal, qual é a relação entre energia e mudança climática? Sabe-se que a temperatura média global está aumentando e um dos motivos é a grande quantidade de gases de efeito estufa na atmosfera. O principal emissor desses gases, no mundo, é o setor de energia. Tanto na exploração e produção de combustíveis fósseis e poluentes (petróleo e derivados, carvão, gás natural) quanto na sua queima na geração de eletricidade, no transporte, na indústria e no comércio. Portanto, é necessário e urgente colocar em prática uma transição energética global com o uso predominante de eficiência energética e de fontes renováveis e menos poluidoras (energia solar, eólica, hídrica e maior uso de biomassa). 
  • Na arena política sobre mudança do clima e equidade de gênero, é insuficiente dar às mulheres responsabilidades centrais sem desafiar tanto as estruturas sociais quanto o poder simbólico das masculinidades. Falar em inclusão sem explicitamente compreender e alterar tais estruturas e simbolismos é mudar (ou dar algumas concessões) para manter as coisas como estão;
  • Políticas e programas de adaptação e mitigação climática focados exclusivamente em mulheres devem considerar também homens e outros gêneros não binários em situação de vulnerabilidade, além de considerar outros marcadores sociais, como raça e classe.

4. MÉTODOS

A metodologia deste estudo consiste em realizar uma busca com palavras-chave e termos que representam a questão de gênero nas publicações oficiais do setor de energia. O método é simples e objetivo, como mostra a Figura 1 abaixo. Vale dizer que a busca não é feita apenas pelo termo definido, mas pelo contexto no qual ele se insere.

Em resumo:

  • 1ª Etapa: Inicialmente, selecionou-se o PDE 2030 (Plano Decenal de Expansão de Energia 2030) para análise por constar na Política Nacional sobre Mudança do Clima como plano de ação de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, e por ser um dos mais recentes publicados. Posteriormente, mais planos poderão ser analisados.
  • 2ª Etapa: O próximo passo consistiu na definição e busca pelos termos selecionados. Os termos, ou palavras-chave, foram escolhidos com base na metodologia aplicada na Nota Técnica “Indicativos de Gênero em Políticas e Programas Climáticos na Esfera Federal” (Indicativos de Gênero em Políticas e Programas Climáticos na esfera Federal – Gênero e Clima | OC).

São eles: 

gênero, mulher/mulheres, menina/meninas, LGBT, igualdade, equidade, criança, raça/racial/raciais, negro/negra, quilombo/quilombola/quilombos/quilombolas, racismo, étnico/étnica, etnia, comunidade, indígena/indígenas, vulnerável/vulneráveis, refugiado, imigrante, periferia/periférica, favela, baixa renda, menor renda, interseccionalidade; 

  • 3ª Etapa: Cada termo, na sua forma singular ou plural quando cabível, foi buscado no PDE 2030. O plano possui 453 páginas e é composto por 11 capítulos: Premissas Gerais, Demanda de Energia, Geração Centralizada de Energia Elétrica, Transmissão de Energia Elétrica, Produção de Petróleo e Gás Natural, Abastecimento de Derivados de Petróleo, Gás Natural, Oferta de Biocombustíveis, Eficiência Energética e Recursos Energéticos Distribuídos, Análise Socioambiental e Consolidação dos Resultados. 
  • 4ª Etapa: Os resultados completos foram compilados em uma planilha que também pode ser consultada no Anexo 1 desta NT. 

 

5. RESULTADOS

O Quadro 4 e a Figura 2 abaixo apresentam os termos e o número total de vezes nas quais essas palavras foram identificadas. Há também alguns exemplos de passagens (excertos) que ilustram o contexto do termo empregado.

Termos

Número total

Excerto

gênero

0

mulher/mulheres

0

menina/meninas

0

LGBT

0

igualdade

0

equidade

0

criança

0

raça/racial/raciais

0

negro/negras

0

quilombo/quilombolas

11

“Ressalta-se que, desde a concepção, os empreendimentos de transmissão são planejados para desviar das comunidades quilombolas. Porém, permanece o desafio de identificar essas comunidades na fase de planejamento.”

racismo

0

étnico/étnica

0

etnia

0

comunidade

19

“O tema foi considerado relevante na região Nordeste, em função das interferências de empreendimentos eólicos na dinâmica territorial e nos modos de vida de comunidades locais, por meio de restrições de acesso e uso a áreas antes utilizadas para subsistência e lazer.”

indígena/indígenas

26

“Especificamente na região norte, é fundamental que sejam efetuados esforços adicionais de gestão em casos que envolvem a implantação de LTs próximas a terras indígenas, considerando as sensibilidades particulares dos povos indígenas e respeitando seus direitos.”

vulnerável/vulneráveis

0

refugiado

0

imigrante

0

periferia/periférica

0

favela

0

baixa renda

0

menor renda

4

“Contudo, cabe ressaltar que o aumento da conectividade também contribui para a mobilidade, facilitando o acesso ao transporte, inclusive individual, mesmo para quem não tem a propriedade dos meios de transporte. Isso tende a aumentar a locomoção de pessoas, inclusive de pessoas de menor renda e de maior idade.”

interseccionalidade

0

Quadro 4. Resumo dos resultados encontrados.

Planos Setoriais

6. CONCLUSÃO

O Plano Decenal de Expansão de Energia 2030 possui um capítulo dedicado à análise socioambiental. Apesar da abordagem socioambiental, a questão de gênero não foi identificada em nenhum capítulo do plano. Os termos encontrados são, em sua maioria, aqueles relacionados aos impactos ambientais, tema mais tratado no setor de energia. 

A Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que elabora tecnicamente os Planos Decenais de Expansão de Energia (PDE), ligada ao Ministério de Minas e Energia (MME), tem realizado esforços ao longo dos últimos anos para aumentar a base de dados de indicadores e de análises nos diversos setores da área energética, inclusive socioeconômicos e ambientais. 

No entanto, ainda há uma dupla lacuna importante no instrumento de planejamento de médio prazo, que é o PDE, e de longo prazo, que é o Plano Nacional de Energia (PNE): uma é de diagnóstico multidisciplinar da interligação entre energia e tais dimensões, para a qual entrariam indicadores e análises também de ordem sociológica e antropológica, por exemplo; e a outra é de projeção dos planos sobre essas dimensões socioeconômicas e socioambientais,  capaz também de incorporar tais dimensões como metas a serem alcançadas. 

Dentro do preenchimento dessas duas lacunas, as questões de gênero deveriam estar presentes em suas diversas faces (raça, classe, etnia, territórios e outros). 

Sabe-se que o setor energético é um dos componentes de transformação social, ambiental e econômica que, para ocorrer, precisa de outros esforços. Mas isso não significa que deva se furtar a um olhar mais abrangente e em diálogo com os outros instrumentos de planejamento e de políticas econômicas, industriais, sociais, habitacionais, alimentares, de saúde e de educação, para citar apenas algumas. Os múltiplos benefícios e impactos negativos da energia ultrapassam os limites do próprio setor.

Dessa forma, a produção e o uso da energia possuem diversas conexões com os diversos aspectos da sociedade brasileira e mundial. A relação energia, gênero e mudança do clima é uma dessas conexões que precisam ser abordadas, especialmente porque o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) é o plano setorial de mitigação e adaptação da Política Nacional sobre Mudança Climática (PNMC).

7. IMPLICAÇÕES E RECOMENDAÇÕES

As implicações e recomendações desse estudo inicial acerca do Plano Setorial (PDE) e questões de gênero são:

  • As políticas públicas, quando elaboradas e realizadas sem atentar às particularidades dos segmentos da população ou do setor, podem deixar um conjunto de pessoas e de setores fora dos impactos que tais políticas querem promover. O mesmo é válido para o exercício do planejamento energético, inclusive quando não se consideram as diferentes particularidades de gênero.
  • Quando o planejamento energético (e as políticas a ele atreladas) está dissociado dos impactos sobre os objetivos de desenvolvimento do país, ele perde conexão com a própria sociedade, ficando conectado apenas com a parte técnica do setor energético. 
  • As questões socioeconômicas e socioambientais são ainda encaradas como externalidades, isto é, como resultados indiretos do planejamento energético. Contudo, como as políticas são desenhadas e implementadas sem levar em conta as evidências dessas duas esferas, os resultados para a população e o meio ambiente ficam muito distantes daquilo que foi imaginado inicialmente.
  • Recomenda-se a análise mais aprofundada das questões de gênero no planejamento do setor energético, identificando as injustiças, quais partes da sociedade são mais afetadas e quais procedimentos podem ser feitos para reduzir tais impactos desproporcionais.      
  • Recomenda-se incluir mulheres no diálogo, de forma perene, no setor de energia. Um exemplo de sucesso é a MESOL (Rede Brasileira de Mulheres na Energia Solar), que promove a equidade de gênero, conscientiza, informa e dá suporte para as mulheres em um setor predominantemente masculino.
Referências

Brasil, Lei nº 12.187, de 29 de dezembro de 2009.

Brasil, Decreto nº 7.390, de 9 de dezembro de 2010.

Brasil, Decreto nº 9.578, de 22 de novembro de 2018.

CLANCY, J. S.; SKUTSCH, M.; BATCHELOR, S. The gender-energy-poverty nexus: Finding the energy to address gender concerns in development. Disponível em: <https://ris.utwente.nl/ws/portalfiles/portal/5134277/Clancy99gender.pdf%0Ahttp://gamos.org/publications/Gender – energy – poverty nexus – DFID CNTR998521 – 2003 – TechReport.pdf>.

DANIELSEN, K. Gender equality, women’s rights and access to energy services – An inspirational paper in the run-up to Rio+20. Disponível em: <https://www.kit.nl/gender/wp-content/uploads/publications/1975_Gender Rights and Energy Report final.pdf>.

OPARAOCHA, S.; DUTTA, S. Gender and energy for sustainable development. Current Opinion in Environmental Sustainability, v. 3, n. 4, p. 265–271, 2011. 

REDDY, A. K. N. et al. Chapter 2 – Energy and Social Issues. In: World energy assessment: energy and the challenge of sustainability. New York: United Nations Development Programme, 2000. p. 22. 

Instagram Rede Brasileira MESol, 2021. Disponível em: <https://instagram.com/redebrasileiramesol>. Acesso em: novembro 2021.

“Este conteúdo não representa, necessariamente, a opinião do Observatório do Clima ou de qualquer um de seus membros.”

Jô Santin e o desejo da terra produtiva | Mulheres que Restauram

Integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Joscimar Marins Santin é a estrela do sexto episódio da Série Mulheres que Restauram por acreditar que é das mãos das mulheres que nasce o sonho da terra produtiva. “As árvores são vida e cada planta que a gente põe na terra a gente tem que colocar na terra com o maior carinho, porque a terra é como uma mãe e gera vida”, comenta Jô.

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Planos Setoriais: Energia

Esta nota técnica analisa a relação entre energia, gênero e mudança do clima no âmbito do Plano Decenal de Energia 2030. Este documento não representa, necessariamente, a opinião do Observatório do Clima ou de qualquer um de seus membros.

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Josefa e a felicidade de morar na floresta | Mulheres que Restauram

Josefa e a felicidade de morar na floresta | Mulheres que Restauram

#MulheresQueRestauram

Josefa e a felicidade de morar na floresta | Mulheres que Restauram

PUBLICADO EM: 30 de outubro de 2021

“Nós somos mulheres e estamos aqui para restaurar”, essa é a meta de vida de Josefa Machado Neves, presidente da Associação das Mulheres Produtoras de Polpas de Frutas de São Félix do Xingu, e estrela do quarto episódio da Série Mulheres que Restauram.

 

Eu moro no meio da floresta. Minha casa é no meio da floresta. Eu sou rodeada de árvores e sou muito feliz pelo meu lugarzinho”, é assim que Josefa Machado Neves recebe as pessoas na sua propriedade, o Sítio Alvorada, localizado em São Félix do Xingu, no Pará.

Quando ela e o marido compraram os mais de 2 alqueires de terra, eles transformaram a paisagem, antes coberta de capim, em uma plantação de cacau. Abandonando a produção de gado, no início eles investiram só no cacau, porque não tinham a visão da importância da floresta como um todo. “Quando nós compramos a terra, não existia o incentivo de cultivar a floresta. Na época eu cansei de cortar os pés de acerola, eles nasciam e eu cortava, eu nem ligava para a acerola”, comenta Josefa.

De uma parceria da Associação das Mulheres Produtoras de Polpas de Frutas (AMPPF), organização que Josefa preside, com o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), é que veio a mudança. “Eu mudei da água para o vinho depois que ouvi falar sobre os Sistemas Agroflorestais (SAFs). Eu fiz cursos para aprender como faz e hoje eu cuido dos pés de acerola com o maior zelo. Eu cuido que nem se cuida de uma criança, porque para mim é uma grande valia as frutas que elas me dão”, diz ela orgulhosa de toda a produção que tem no sítio.

Além de cacau e acerola, Josefa cultiva outras espécies nativas e frutíferas como açaí e cupuaçu. Estes frutos são processados e vendidos como polpas que são usadas, em sua maioria, como complemento da merenda das escolas da região. E é disso que a família de Josefa, e várias outras famílias associadas, tiram o sustento: “eu sempre falo para as mulheres da AMPPF que nós não precisamos derrubar a floresta para podermos ganhar dinheiro. Nós tiramos o nosso sustento do meio da floresta, que também nos traz saúde”.

Além do processamento dos frutos para extrair a polpa, Josefa também aprendeu a processar as sementes e a produzir mudas nativas e geralmente troca espécies com os membros da associação. “As vezes eu tenho uma semente crioula, ou uma muda, que o outro não tem, então nós trocamos para todo mundo ter um pouco de tudo, e nós conseguirmos atender a demanda juntos”, informa Josefa que também se diz orgulhosa e maravilhada com as mulheres que se apegaram ao projeto e à associação: “nós somos mulheres e estamos aqui para restaurar, somos restauradas. Nós não amolecemos com pouca coisa. Nós estamos aqui pro que der e vier, nós estamos aqui prontas e firmes no batente.

E foi através do Programa Florestas de Valor, do Imaflora, que a AMPPF conseguiu apoio para se fortalecer institucionalmente e também um suporte para ampliar sua escala de comercialização. O programa, que atua prioritariamente nas regiões da Calha Norte, Rio Negro e São Felix do Xingu, tem como objetivo valorizar as populações tradicionais e os agricultores familiares e impulsionar atividades agroextrativistas na Amazônia, além de apoiar a estruturação de cadeias de valor e facilitar a sua inserção em mercados, que valorizam sua sustentabilidade e origem.

O quarto capítulo da Série Mulheres que Restauram conta a história da presidente da Associação das Mulheres Produtoras de Polpas de Frutas, Josefa Machado Neves. Fotos: Makro Comunicação e Imaflora. Vídeo: Apremavi.

Mulheres que Restauram

​Este é o quarto capítulo da série Mulheres que Restauram. O episódio de estreia foi ao ar no Dia da Terra, com a história de Ercília Felix Leite. O segundo episódio, lançado no dia 24 de setembro, compartilhou a história de Dona Helena. E o terceiro episódio, que estreou no dia 13 de outubro, compartilhou a trajetória de Edilaine Dick.

Mulheres que Restauram é uma iniciativa da Apremavi na Década das Nações Unidas para a Restauração de Ecossistemas, com apoio do GT de Gênero e Clima do Observatório do Clima, e tem o objetivo de divulgar histórias de mulheres protagonistas na restauração e no planejamento de propriedades e paisagens, como forma de conscientizar a sociedade sobre a importância da atuação feminina na mitigação da crise do clima e promover o plantio de árvores nativas e a recuperação de áreas degradadas.

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Infográfico “Por que gênero e clima?” ganha versão para colorir

Infográfico “Por que gênero e clima?” ganha versão para colorir

#Infográfico

Infográfico “Por que gênero e clima?” ganha versão para colorir

ELABORAÇÃO: Jamille Nunes
PUBLICADO EM: 28 de outubro de 2021
Nova versão do infográfico é voltada para introduzir a discussão com crianças e contextos pedagógicos.
Infográfico para colorir

O infográfico “Por que gênero e clima?” sempre se pretendeu um material em constante construção – um ponto de partida -, na medida em que não encerra a discussão de gênero e clima, e está aberto a receber novas contribuições e melhorias.

Com o objetivo de ampliar o debate em torno do tema, especialmente para pessoas que já vivem as consequências das mudanças climáticas, o GT de Gênero e Clima do Observatório do Clima criou uma versão do infográfico para colorir. Você pode baixá-lo gratuitamente aqui.

Durante o lançamento oficial do infográfico, em julho, com a presença das convidadas Selma Dealdina (CONAQ) e Sineia Wapichana (CIR), ficou evidente a importância desse novo material. Ambas expuseram o potencial didático que ele poderia desempenhar em seus territórios ou em escolas.

Neste mês das crianças, valorizamos capacidade transformadora e sensível delas,  resgatada pelas palavras de Selma.  “Esse material é lindo e colorido, as crianças vão se amarrar pra caramba. Se o objetivo é conversar com elas, é importante que as crianças pintem”, Selma declarou.

Aqui em Roraima, trabalhamos muito com o desenho, não só para que as pessoas possam ter melhor entendimento, mas a gente tem uma questão entre os povos indígenas, que às vezes não sabem ler e escrever (em português),” pontuou Sineia, à época.

A nova versão pode ser usada em salas de aula, atividades pedagógicas e encontros formativos.

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Poesia “Mulher de pescador” — Edital Sementes

Poesia “Mulher de pescador” — Edital Sementes

#EditalSementes

Poesia “Mulher de pescador” — Edital Sementes

PUBLICADO EM: 16 de agosto de 2021

A poesia abaixo foi enviada por Daniele Almeida de Carvalho, bióloga e Mestra em Biodiversidade de Ambientes Costeiros. A leitura foi feita por Tatiane Matheus.

Mulher de Pescador

"Mulher de Pescador"

por Daniele Almeida de Carvalho | Para Edital Sementes

Mulher de pescador

Acordar, cozinhar e lavar
Cuidar do bolo, marisco, ovo
Peixe, espinha, escama
Arrumar a cama
“Ô mulher a rede arrebentou
Me ajude aqui faz favor”
 
Pisar na lama
Caranguejo, panela
Dias, semanas, meses
Pisar na lama,
Caranguejo, defeso
“Tem que ir atrás do seguro”
Mar vem, mar vai
Tempestade
Água no chão, na comunidade
Perdemos muito, não tudo

 “O mar não tá pra peixe”

Cozinha siri, camarão, bolinho de peixe
Pelo menos hoje
Ninguém dormiu com fome 

Festa na comunidade
As crianças vão ter que ajudar
Arma a barraca
Vem turista, vai tainha
Essa semana dinheiro não vai faltar

“Hoje tem reunião na Colônia, cê vai?”
“Queria, mas tô cansada, as crianças não param
Ainda tive que fazer bico e reparo”

Ó minha Nossa Senhora dos Navegantes
Há de chegar o dia 
Em que vão me olhar
Não como mulher de pescador
Mas como trabalhadora do mar

Ó minha Nossa Senhora da Esperança
Proteja meu esposo, 
meus filhos, 
meu lar

Ó Iemanjá
Nos dê força pra continuar
Pra quando meu dia chegar
Eu possa partir 
Ouvindo o barulho do mar

O Edital Sementes tem como objetivo destacar narrativas que interligam questões de gênero e clima e que normalmente não encontram vazão nos espaços institucionais. São relatos orais transcritos, narrativas tradicionais, poéticas e outros que, ao serem reconhecidos, ajudam a adiar o fim do mundo.

Alguns dos materiais passaram por edição ou adaptação para melhor clareza e melhor leitura, às vezes reduzindo seu tamanho original.

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Relatos “Fragmentação de territórios e justiça climática” — Edital Sementes

Relatos “Fragmentação de territórios e justiça climática” — Edital Sementes

#EditalSementes

Relatos “Fragmentação de territórios e justiça climática” — Edital Sementes

PUBLICADO EM: 20 de outubro de 2021

Maíra Azevedo traz relatos da roda de conversa virtual sobre territórios e justiça climática, transmitida pela “Salve o Rio Jaguaribe”.

Narrativa Shanenawa

Clique aqui para assistir a roda de conversa.

O encontro aconteceu em um momento crítico da pandemia, às vésperas de o Brasil alcançar a triste estatística dos 100 mil mortos pela pandemia provocada pelo novo coronavírus, em agosto de 2020.

Estiveram presentes a bióloga Maíra Azevedo, a liderança religiosa e cuidadora do Quilombo Quingoma Mãe Donana; a escritora e advogada Maria Alice; Verônica Raquel, do Movimento Nosso Quilombo; e a artista-pesquisadora e permacultora Clara Domingas.

Essas representações também compõem a Convergência pelo Clima, espaço de diálogo que reúne diversas outras organizações e representações da sociedade soteropolitana, onde atuam para propor medidas de adaptação climática nas políticas públicas, olhando para seus territórios. 

Essas mulheres falaram sobre conexão, identidade e formação da comunidade local. E discutiram, também, a ideia de aproximação ou conectividade entre seus territórios. “A gente tem que ter um respeito muito grande a essas comunidades tradicionais, a nossas comunidades tradicionais. Porque nós somos berço da cultura, da fé, do amor, do acolhimento,” ressalta Mãe Donana.

Acesse aqui os relatos na íntegra, da conversa “Fragmentação de territórios e justiça climática”.

O Edital Sementes tem como objetivo destacar narrativas que interligam questões de gênero e clima e que normalmente não encontram vazão nos espaços institucionais. São relatos orais transcritos, narrativas tradicionais, poéticas e outros que, ao serem reconhecidos, ajudam a adiar o fim do mundo.

Alguns dos materiais passaram por edição ou adaptação para melhor clareza e melhor leitura, às vezes reduzindo seu tamanho original.

“Este conteúdo não representa, necessariamente, a opinião do Observatório do Clima ou de qualquer um de seus membros.”

Relato “Mulheres indígenas, suas visões sobre mudanças climáticas” — Edital Sementes

Relato “Mulheres indígenas, suas visões sobre mudanças climáticas” — Edital Sementes

#EditalSementes

Relato “Mulheres indígenas, suas visões sobre mudanças climáticas” — Edital Sementes

PUBLICADO EM: 18 de setembro de 2021

Elizangela Baré, da Terra Indígena Cue-due Marabitanas, enumera as demandas dos povos indígenas no enfrentamento às mudanças climáticas.

Narrativa Shanenawa

Meu objetivo é atuar de forma coletiva entre as diferente regiões, para podermos abordar temas relevantes em nosso  território, como por exemplo Plano de Gestão Territorial e Ambiental das Terras Indígenas, Sustentabilidade, Mudanças Climáticas, Segurança Alimentar, Artesanatos sempre de forma coletiva, atualmente precisamos dialogar o tema mudanças climáticas. No território Rio Negro, isso é muito visivél os efeitos de mudanças climáticas, estão fazendo partir da vida dos povos originários, cada ano que se passa elas precisam achar estratégias de resgurdar os conhecimentos delas, achar caminhos e ações novas de organizar a sua existência, como por exemplo suas roças, novos cultivos e maneiras de cuidar do conhecimentos adquiridos pelo seu povo para que não desaparecam e assim guardar e resguardar as linhagem de sua ancestralidade como amor e resistência, para que a sua geração possa continuar existindo acompanhado pela mãe natureza. A nossa bandeira de luta é Terra e Cultura. 

Além disso quero compartilhar e demonstrar aos povos indígenas, que estamos passando por um processo de adaptação e variabilidade climática, nos últimos anos o sistema tradicional dos povos indígenas tem enfrentado evidências de mudanças no clima, que alteram suas atividades, onde até esse momento não se tem estutos de como será feito o desenvolvimento de politicas de enfretamento climático na região do Rio Negro.

O Edital Sementes tem como objetivo destacar narrativas que interligam questões de gênero e clima e que normalmente não encontram vazão nos espaços institucionais. São relatos orais transcritos, narrativas tradicionais, poéticas e outros que, ao serem reconhecidos, ajudam a adiar o fim do mundo.

Alguns dos materiais passaram por edição ou adaptação para melhor clareza e melhor leitura, às vezes reduzindo seu tamanho original.

“Este conteúdo não representa, necessariamente, a opinião do Observatório do Clima ou de qualquer um de seus membros.”

Relato “Somos parte da solução” — Edital Sementes

Relato “Somos parte da solução” — Edital Sementes

#EditalSemente

Relato “Somos parte da solução” — Edital Sementes

PUBLICADO EM: 15 de outubro de 2021

O relato abaixo foi enviado por Vera Lúcia Aguiar, ressaltando o protagonismo e conhecimentos tradicionais das mulheres indígenas na roça, na região do Alto Rio Negro, e em especial de sua mãe, mulher do povo Dessano. A leitura foi feita por Ellen Acioli, amazônida, ativista climática e defensora socioambiental.

Narrativa Shanenawa

“Somos parte da solução”

por Vera Lúcia Aguiar Moura - DAJIRN/FOIRN | para Edital Sementes

Venho de uma família onde as mulheres, mães, avós, tias e primas são criativas, conhecedoras e protagonistas quando se fala de trabalho, cuidado e defesa.

Minha mãe veio do povo Dessano e casou-se aos 19 anos com um homem do povo Tukano, trouxe consigo seus conhecimentos repassados pelo pai e principalmente pela mãe: modo de cuidar a família, sustentar, cultivar a terra, plantar, consumir e liderar as mulheres ao trabalho para o bem comum.

Cuidar e estar atenta para ajudar o meu pai e a comunidade no cuidado e orientação, no modo de convivência com meio ambiente, é o ponto forte dela.

Ela é mais voltada no preparo e cultivo da maniwa de modo tradicional. Além do trabalho da roça, ele já vai plantando árvores frutíferas na área de trabalho, esse trabalho todo é da iniciativa dela. O trabalho todo que ela faz é do conhecimento que ela recebeu da mãe e que ela compartilha com as demais da comunidade.

Tudo ela vê o quanto é o necessário para o consumo da família e prevê se destruir tudo para o trabalho terá consequências mais tarde. E assim incentiva a nós filhas e as demais no cuidado, no trabalho e no consumo de comidas tradicionais.

Quando se fala na questão de sustentabilidade as mulheres entra na conversa da comunidade e elas sempre dão a sua opinião de como deve trabalhar e ou cuidar e minha mãe é que lidera, sempre leva o trabalho na questão de usufruir os materiais que tem na natureza pra produção e para uso do dia a dia sem precisar desmatar desenfreadamente, tudo conforme a necessidade.

Tudo isso é a prática de anos e anos da comunidade Maracajá/Rio Tiquié, na região do Alto Rio Negro e assim continua nos mesmos ritmos de trabalho e cuidado.

O Edital Sementes tem como objetivo destacar narrativas que interligam questões de gênero e clima e que normalmente não encontram vazão nos espaços institucionais. São relatos orais transcritos, narrativas tradicionais, poéticas e outros que, ao serem reconhecidos, ajudam a adiar o fim do mundo.

Alguns dos materiais passaram por edição ou adaptação para melhor clareza e melhor leitura, às vezes reduzindo seu tamanho original.

“Este conteúdo não representa, necessariamente, a opinião do Observatório do Clima ou de qualquer um de seus membros.”

Edilaine Dick e a vocação de restaurar florestas | Mulheres que Restauram

Edilaine Dick e a vocação de restaurar florestas | Mulheres que Restauram

#MulheresQueRestauram

Edilaine Dick e a vocação de restaurar florestas | Mulheres que Restauram

PUBLICADO EM: 13 de setembro de 2021

No último semestre da faculdade, Edilaine Dick, que estrela o terceiro capítulo da Série Mulheres que Restauram, fez um curso de restauração de áreas degradadas que mudou sua vida. Foi ali que ela descobriu o que queria fazer: trabalhar com restauração, plantar árvores e mudar a vida das pessoas. “O amor pela causa ficou óbvio depois disso”, menciona a bióloga.

 

“Foi na infância, no sítio dos pais da minha cuidadora, que eu aprendi o amor pela agricultura e pelas coisas do interior.” Nesse mesmo sítio uma outra semente também se plantou no coração de Edilaine Dick, a personagem do terceiro capítulo da Série Mulheres que Restauram; a de quão impressionante pode ser um rio quando ele tem suas margens preservadas. “Tinha um rio na propriedade dos pais da tata, super bem preservado, e eu lembro muito bem até hoje da imagem desse rio com suas Áreas de Preservação Permanente (APPs) preservadas, da beleza das árvores e dos detalhes da natureza – era ali que a gente ia brincar e comer melancia e isso era maravilhoso”, comenta Edilaine.

Anos mais tarde, a escolha pela profissão não veio fácil, mas a certeza de querer trabalhar com pessoas, pelo bem estar dos animais e manter a conexão com a natureza a levaram a cursar biologia. Tentando se encontrar no decorrer da faculdade, Edilaine viu os olhos brilharem quando teve a oportunidade de fazer um curso sobre restauração de áreas degradadas. Quase como um sinal do destino, na mesma época, ela encontrou por acaso um colega lendo uma publicação da Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi), o livro A Mata Atlântica e Você. “No último semestre, eu encontrei um rapaz num ônibus folheando o livro Mata Atlântica e Você. O livro era tão cheio de imagens e tinha tudo a ver com a temática da restauração que eu não pude deixar de olhar. Ele me emprestou o livro e eu imediatamente entrei em contato com a equipe para ver se podia fazer estágio. Foi assim que conheci a Apremavi”, menciona a bióloga.

Uma outra motivação que Edilane teve para se aprofundar no estudo sobre a importância da conservação e restauração de florestas foi um bate-papo rápido com a ambientalista e ex-professora da FURB, Lúcia Sevegnani (em memória). “Na ocasião, a Lúcia me fez várias perguntas que eu não sabia responder, e isso me deixou muito frustrada, mas também me impulsionou a aprender. Uma das dicas que ela me deu foi que eu procurasse a Apremavi, e foi o que eu fiz. Durante muitos anos eu quis reencontrá-la para poder responder àquelas perguntas”, comenta Edilaine que teve a chance de encontrar novamente com a professora alguns anos mais tarde durante um trabalho de campo que a Apremavi estava conduzindo na região do Campo dos Padres. Lucia Sevegnani era um ícone do ambientalismo catarinense e foi uma das fundadoras da Apremavi.

Há 16 anos na Apremavi, Edilaine trilhou uma trajetória na instituição que começou no estágio supervisionado, passou por assistência técnica e chegou à coordenação de projetos. À frente de projetos como o Araucária, que promoveu a conservação e a recuperação de remanescentes florestais e espécies-chave da Mata Atlântica entre 2013 e 2015 e teve apoio da Petrobras Ambiental, e mais recentemente o Restaura Alto Vale, que já restaurou 210 hectares em 666 propriedades e 22,8 hectares em três Unidades de Conservação, doou 300 mil mudas nativas e que tem apoio do BNDES, Edilaine põe em prática o amor pela causa.

Quando eu entrei na Apremavi nós éramos duas mulheres envolvidas nos trabalhos de campo, eu e a Miriam Prochnow, fundadora da instituição; a gente ia para todas as reuniões, todos os lugares. Na época não havia participação de mais mulheres, mas hoje eu tenho visto que as mulheres estão ganhando espaço, e que a gente tem um papel importante em ampliar a presença feminina na restauração dos ecossistemas”, comenta Edilaine12 mulheres fazem parte da equipe direta da Apremavi hoje. Elas ocupam cargos técnicos, de coordenação, administrativos e de direção. Além disso, são responsáveis por desenvolver um trabalho importante no Viveiro Jardim das Florestas, onde estão diretamente vinculadas com todo o processo de produção de mudas, insumo fundamental da restauração de ecossistemas. E isso é motivo de orgulho para Edilaine quando diz que “as mulheres da Apremavi com certeza são um exemplo de mão na massa, não só produzindo mudas, plantando árvores e restaurando a Mata Atlântica, mas também trabalhando com educação ambiental, lidando com os proprietários e desenvolvendo um trabalho mais técnico”.

Um outro momento que faz os olhos da Coordenadora de Projetos brilharem é voltar para as áreas que ela ajudou a restaurar, “quando eu volto numa propriedade que eu ajudei a planejar e vejo as florestas em estágios avançados de regeneração eu sei que o trabalho deu certo e que cumprimos a nossa missão, que é ajudar o proprietário a entender a importância da conservação das florestas e da restauração das áreas degradadas”.

Além da vocação para ser uma mulher que restaura, Edilaine também é mãe de duas crianças, o Joaquim que tem cinco anos e a Amália que tem oito meses. “Ter filhos foi uma decisão muito bem pensada, bem planejada, sobretudo porque eu sempre ficava me perguntando como conciliar o trabalho com a criação deles. Não é fácil, mas trabalhar com algo que eu gosto, que me satisfaz e que também tem uma importância fundamental para garantir o futuro deles me convence de que estou no caminho certo”, afirma Edilaine que, no auge do isolamento e do período de home office em decorrência da pandemia de Covid-19, decidiu montar um pequeno viveiro em casa e, com a ajuda do Joaquim, já produziu mais de mil mudas que foram doadas no município onde moram. Essa atividade está associada com o trabalho que realiza junto ao viveiro de mudas da APAE Renascer de Monte Carlo (SC) e que a encanta todos os dias. “Eu sou muito grata à Apremavi e ao trabalho que a gente faz justamente por isso, porque eu consigo envolver meus filhos e, sempre que possível, mostrar que através da restauração podemos construir um caminho e um futuro próspero”, diz Edilaine.

O terceiro capítulo da Série Mulheres que Restauram conta a história da Coordenadora de Projetos da Apremavi, a bióloga Edilaine Dick. Fotos e vídeo: Acervo Apremavi.

Mulheres que Restauram

Este é o terceiro capítulo da série Mulheres que Restauram. O episódio de estreia foi ao ar no Dia da Terra, com a história de Ercília Felix Leite. O segundo episódio, lançado no dia 24 de setembro, compartilhou a história de Dona Helena.

Mulheres que Restauram é uma iniciativa da Apremavi na Década das Nações Unidas para a Restauração de Ecossistemas, com apoio do GT de Gênero e Clima do Observatório do Clima, e tem o objetivo de divulgar histórias de mulheres protagonistas na restauração e no planejamento de propriedades e paisagens, como forma de conscientizar a sociedade sobre a importância da atuação feminina na mitigação da crise do clima e promover o plantio de árvores nativas e a recuperação de áreas degradadas.

“Este conteúdo não representa, necessariamente, a opinião do Observatório do Clima ou de qualquer um de seus membros.”

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