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Painel na COP 27 ‘Mulheres na ação climática’ mostra que o equilíbrio está na coletividade
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Painel na COP 27 ‘Mulheres na ação climática’ mostra que o equilíbrio está na coletividade
ELABORAÇÃO: Tatiane Matheus*
PUBLICADO EM: 01 de dezembro de 2022
“O Brasil é composto por seis biomas e um bioma depende do outro para manter o equilíbrio do climático do mundo. Daqui para frente vamos pensar que nós precisamos fortalecer todos os biomas. Em todos os biomas têm povos indígenas e comunidades tradicionais. Está na hora de deixar o individualismo falseado ambiental de lado. Não existe trabalho ambiental para um bioma. Tem que vir para todos os biomas. É ‘Fundo Biomas’ que precisa ser criado”, as palavras iniciais da líder indígena Shirley Krenak deu o tom ao painel sobre Mulheres na Ação Climática realizado no espaço da sociedade brasileira na COP27, o Brazil Climate Action Hub, na terça-feira, 8/11.
O Grupo de Trabalho Gênero e Clima, do Observatório do Clima, juntamente com as mulheres que participaram desta troca de experiências e ideias demonstrou que, sim, o equilíbrio é coletivo e não individual, como disse Shirley Krenak no início do evento. “Ecoamos juntos”, liderou a mediadora do primeiro painel, Karen Oliveira (TNC), que participaram Val Munduruku (Engajamundo e da IPLC), Ana Rosa Cyrus (GT de Gênero e Engajamundo), Selma dos Santos Dealdina (CONAQ e Fundo Casa) e Denise Hills (Natura&Co Latam).
Para a ativista Val Munduruku, falar de justiça climática é falar das pessoas que estão sofrendo os impactos e de justiça social. Destacou que a sua região, no Alto Rio Tapajós, no Pará, sofre fortemente com o impacto ambiental pelo garimpo ilegal. Devido a isto, as mulheres da região são as mais impactadas, muitas não querem mais engravidar pelo risco de contaminação dos bebês por mercúrio, além da violência existente no local que também viola corpos de crianças. Portanto, é importante ocupar espaços. “As mulheres estão lutando juntas. É uma luta unificada e precisa ser. Seja as pessoas que estão nos territórios, seja as pessoas que estão nos grandes centros urbanos. Mas como a gente ocupa estes espaços? Não é sobre dar voz, mas dar oportunidades para estarmos contando as nossas narrativas”, explica Val.
A representante da juventude Ana Rosa Cyrus trouxe que, para falar sobre gênero, é preciso, primeiramente, olhar que o movimento climático é representado, em sua maioria, por homens brancos. Logo, é preciso descolonizar e que as ações passem a ser lideradas por quem mais sofre as consequências da emergência climática, ou seja, as mulheres, juventudes, LGBTQI+ e outras minorias. Elas precisam ser protagonistas da luta ambiental e climática, já que são as que mais sofrem com tudo isso. “Quando a gente dialoga sobre mulheres e clima, a gente precisa discutir quais os mecanismos de silenciamento que existem. (…) Não é toda e qualquer mulher que pode falar de dentro desses espaços”, ponderou Ana Rosa.
Selma dos Santos Dealdina, representante do movimento negro, vai ao encontro da fala de Ana Rosa ao exemplificar que o papel das mulheres quilombolas foi invisibilizado ao longo da história do país. “Escurecendo a pauta, hoje nós somos visíveis. A comunidade quilombola há décadas e séculos estão aí. Ou as nossas matas não estariam de pé e nossa ancestralidade não estaria mantida”, esclareceu. De forma coletiva, as comunidades quilombolas preservam seus territórios — existentes em vários biomas. Destacou a destruição ocorrida no país nos últimos anos e que será preciso uma grande reconstrução com a voz de todos.
Por sua vez, Denise Hills, que representou o setor privado neste painel, destacou a irritação que sente quando ouve que as mulheres são minoria, já que elas representam metade do país e que a solução das questões climáticas virá apenas com o empoderamento delas. “O mundo é 50% de mulheres, o Brasil é mais de 50% preto. Não existe inclusão de minorias. Existe a gente se incluir e se ver como a realidade; representar isso na tomada de decisões para a gente garantir direitos, realidades, vocação dos países de acordo com as pessoas que lá vivem, com a vocação desse lugar”, analisou.
União será a força — Uma das mediadoras do segundo painel, Joci Aguiar (GT de Gênero e GTA), o iniciou animando a plateia ao dar destaque sobre a importância da união das várias organizações presentes para ter espaços mais participativos e democráticos no novo governo eleito. Participou também dessa roda de conversa Joana Amaral (GT de Gênero e Observatório do Clima) que destacou o trabalho do GT de Gênero e Clima, que é uma potência dentro do Observatório do Clima e conta com 160 mulheres de várias instituições.
Para conduzir o trabalho em rede, há dois grandes documentos. Primeiro, o infográfico que explica o porquê de gênero e clima ao trazer dados sobre a diversidade que há entre as mulheres, logo, impactos distintos; impactos de políticas e obras onde mulheres não participam e sobre as soluções, as quais as mulheres já estão trabalhando. “Conseguir projetos que trabalham com a diversidade das mulheres, ações que trabalham com aspectos de políticas e de obras, ou seja, como as mulheres são impactadas por essas obras e o que isso significa por perdas econômicas. (…) E falar de soluções”, explicou Joana. O outro destaque é o estudo “Quem precisa de Justiça Climática no Brasil?”. Participaram Sheila de Carvalho (Peregum), Maria Amália Souza (Fundo Casa), Fernanda Lopes (Instituto Baobá), Andréia Coutinho (GT de Gênero e especialista em Justiça Climática) e Letícia Maria R.T. Lima (GT de Gênero e especialista em Justiça Climática).
Sheila elogiou o trabalho realizado pelo GT e acrescentou: “Vocês que acompanham a COP por tanto tempo, sabem como foi negligenciado o debate de gênero. Isso não é somente sobre COP, mas também sobre espaços da ONU e de sistemas internacionais de proteção de Direitos Humanos que tem a sistemática de silenciar a luta das mulheres, a produção intelectual de mulheres e isso a gente vê também no campo das mudanças climáticas. Uma material desses que aponta todos os gargalhos e o que nos foi tirado nesses processos é muito importante”.
Ainda acrescentou a importância da interseccionalidade no debate de gênero e clima. Corroborou que as mulheres são as mais impactadas e quem ainda não se tem a real gravidade do problema. Exemplificou que existe um estudo da Universidade da Califórnia, que apontou o risco de partos prematuros devido ao aumento médio da temperatura do planeta em mulheres. Para as não negras, o risco é de 7%, mas salta para 15% entre mulheres negras. “Se o problema nos afeta, temos que ser a parte da solução”, opinou Sheila.
A jornalista Andréia Coutinho explicou que existem muitos artigos acadêmicos sobre Justiça Climática, mas apesar do conteúdo sobre o norte global, ainda falta trazer a ótica do sul global. “A gente precisa construir este conceito (de justiça climática) a partir de quem realmente vive as realidades das injustiças climáticas e elas ocorrem nos territórios”, informou Letícia e completou: “O gênero e a raça não podem ser discussões separadas da crise climática, eles têm que ser centrais”. Ambas foram as coordenadoras do estado “Quem precisa de justiça climática no Brasil?”.
Projetos – Para Maria Amália, que falou sobre filantropia, é preciso ouvir as comunidades para saber o que precisa ser feito e olhar como os biomas funcionam e quem mais precisa para a salvação desses lugares. Ao longo dos anos de seu trabalho socioambiental, ela observou que a maioria dos projetos eram liderados por mulheres e que é importante apoiar as comunidades que estão na linha de frente da preservação ambiental e da transição justa, já que são as mais afetadas. Para isso, é primordial que também tenham um fortalecimento institucional e que esses projetos possam se autogerir.
Já Fernanda Lopes contou a trajetória do Instituto Baobá, que surgiu após a escuta ativa com mais de 190 organizações negras no Nordeste brasileiro, a maioria liderada por mulheres, para responder as necessidade da população negra do Brasil. Assim a fundação foi se organizando para captar recursos, dentro e fora do Brasil, para que estes recursos chegassem até as bases. Explicou ainda que a Fundação Kellogg se comprometeu para entregar uma contrapartida para a instituição ter um fundo patrimonial. “Hoje estamos apoiando mais de 200 projetos financiados pelo Baobá. Prioritariamente, organizadas por mulheres e cerca de 89% não tinha acesso à filantropia”, explicou e demonstrou sobre como esses investimentos fazem a diferencias àqueles que sofrem com as mudanças climáticas. “A solução está nas pessoas e nas comunidades”, acrescentou.
Lígia Amoroso (GT de Gênero) foi a mediadora da terceira parte do evento. A pesquisadora Patrícia Pinto (IPAM e IPCC) explicou que, partir de 2018, o relatório passou a levar em conta as desigualdades, incluindo questões de gênero. O IPCC, hoje, vem fazendo o esforço de incluir mais mulher, hoje já são 40% de autores do IPCC.
Confira o painel na íntegra na página do Brazil Climate Action Hub:
https://www.brazilclimatehub.org/agenda/mulheres-na-acao-climatica-v2/
(*) Tatiane Matheus é jornalista e pesquisadora em Justiça, Equidade, Diversidade e Inclusão no Instituto ClimaInfo.
“Este conteúdo não representa, necessariamente, a opinião do Observatório do Clima ou de qualquer um de seus membros.”
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