GT de Gênero e Clima promove formação entre defensoras ambientais

GT de Gênero e Clima promove formação entre defensoras ambientais

#Informe

GT de Gênero e Clima promove formação entre defensoras ambientais

ELABORAÇÃO: Jamille Nunes, Nara Perobelli, Marina Minari, Raisa Pina
PUBLICADO EM: 29 de setembro de 2021

Curso entre defensoras ambientais e comunitárias de diferentes regiões do país conta com série de encontros para troca de saberes e fortalecimento da rede

Mulheres de contextos diversos de defesa climática, ambiental e de direitos sociais, como extrativistas, marisqueiras, indígenas, ativistas, militantes e de periferias urbanas se reúnem em momentos de formação promovidos pelo Grupo de Trabalho de Gênero e Clima do Observatório do Clima e sua rede parceira. São mulheres que atuam em organizações socioambientais da sociedade civil interessadas em promover a segurança climática.

A ideia do curso  partiu de uma das formadoras, Sarah Marques, do coletivo Caranguejo Tabaiares Resiste (PE), durante uma atividade em 2020.  Ao explicar sua motivação, ela diz: “Eu queria entender como nasce uma defensora, mas é preciso entender por elas. Por isso fiz o pedido para a gente fazer defensoras por defensoras.”

O espaço visa promover um diálogo sobre clima, com perspectiva de gênero e suas intersecções, considerando os contextos em que elas estão: suas diferentes características sociais, experiências de vida, localidades, faixas etárias  e desafios que enfrentam no cotidiano. Essa é uma atividade-piloto, dirigida a lideranças territoriais comunitárias, para fortalecer o trabalho dessas mulheres enquanto defensoras climáticas do Brasil.

São aproximadamente trinta lideranças envolvidas, com o intuito de compartilhar conteúdo em encontros virtuais semanais e temáticos. A formação é composta por oito módulos (Semear, Raízes, Tronco, Caules, Galhos, Flores, Regar, Colher), que contam com a condução de Sarah Marques, Severiá Idiorê, Xica da Silva, Miriam Prochnow e Veridiana Vieira.

defensoras ambientais

Quem apoia?

O curso é uma realização de um conjunto de organizações por meio do Grupo de Trabalho em Gênero e Clima do Observatório do Clima. São elas: Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (APREMAVI), Engajamundo, Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), Hivos, Instituto Centro de Vida (ICV), Instituto Internacional de Educação do Brasil (IIEB), Instituto Socioambiental (ISA), Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) e Rede de Cooperação Amazônica (RCA).

“Este conteúdo não representa, necessariamente, a opinião do Observatório do Clima ou de qualquer um de seus membros.”

Jô Santin e o desejo da terra produtiva | Mulheres que Restauram

Integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Joscimar Marins Santin é a estrela do sexto episódio da Série Mulheres que Restauram por acreditar que é das mãos das mulheres que nasce o sonho da terra produtiva. “As árvores são vida e cada planta que a gente põe na terra a gente tem que colocar na terra com o maior carinho, porque a terra é como uma mãe e gera vida”, comenta Jô.

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Mudança de narrativas: deixando estereótipos para trás ao falar sobre gênero e clima

Mudança de narrativas: deixando estereótipos para trás ao falar sobre gênero e clima

#ProduçãoTextual

Mudança de narrativas: deixando estereótipos para trás ao falar sobre gênero e clima

ELABORAÇÃO: Jamille Nunes
PUBLICADO EM: 28 de setembro de 2021

GenderCC apresenta um guia de boas práticas para narrativas sem estereótipos ao comunicar sobre gênero e clima.

Mudança de narrativas

A rede mundial de organizações GenderCC, que agrega especialistas e ativistas em torno da justiça climática e dos direitos das mulheres, lançou um guia de princípios e boas práticas para comunicar a convergência de ambos os assuntos.

Esse material tem como objetivo ajudar a combater publicamente estereótipos: ao interligar gênero e clima, é comum que se fale apenas pela lente da vulnerabilidade. Ou, ainda, apresentar soluções sem envolver mulheres nas discussões ou na tomada de decisões.

Para avançar na pauta climática, é preciso, antes de tudo, reconhecimento de jornalistas, ativistas, atores políticos e da sociedade civil que gênero está intimamente ligado ao clima. Fazer essa conexão com responsabilidade significa identificar e deixar para trás certas narrativas prejudiciais. Se esses lugares-comuns não são abandonados, a compreensão e a busca por soluções fica comprometida.

Alguns estereótipos midiáticos ao falar de gênero e clima, apontados pelo GenderCC

  • Tratar mulheres como um grupo homogêneo, silenciando mulheres de grupos marginalizados (ou seja, sujeitas a outras opressões, como de raça e classe);
  • Enxergar a equidade de gênero e a justiça climática como assuntos separados;
  • Aderir à noção de que a equidade de gênero é um problema apenas das mulheres, e falar sobre gênero em termos binários (feminino e masculino, apenas, sem considerar pessoas que não se encaixam nessas expressões);
  • Desconsiderar o papel e a discussão sobre masculinidades ao falar da crise climática, seja em atitudes ou em configurações institucionais;

Maneiras efetivas de abordar gênero e clima, segundo o GenderCC

  • Reconhecer que existem nuances nos tópicos, apresentando contextos em gênero e clima, evitando generalizações. Uma homem ribeirinho da Amazônia sente a mudança climática diferente de uma mulher marisqueira do Nordeste, por exemplo;
  • Destacar vozes diversas de grupos e comunidades impactadas pela crise climática. Incluir uma pluralidade de experiências ajuda a combater as narrativas únicas, e um discurso engajador pelas mudanças climáticas passa por compreensão e contextos locais;
  • Usar um conceito amplo em gênero. Isso ajuda a envolver na discussão populações que normalmente vivem em lugares periféricos, têm o acesso a assistência negados e estão em maior risco, como pessoas LGBTQIA+.
  • Focar em problemas estruturais. Confundir causa e efeito é uma abordagem simplista e errônea que pode acontecer se os problemas estruturais não forem identificados. Desigualdades de gênero não são criadas pela crise climática, mas são exacerbadas por ela.

Esse guia ajudou? Compartilhe com a sua rede, com comunicadores e pessoas preocupadas com gênero e clima.

 Acesse o arquivo oficial aqui.

“Este conteúdo não representa, necessariamente, a opinião do Observatório do Clima ou de qualquer um de seus membros.”

Gênero e Clima

Jô Santin e o desejo da terra produtiva | Mulheres que Restauram

Integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Joscimar Marins Santin é a estrela do sexto episódio da Série Mulheres que Restauram por acreditar que é das mãos das mulheres que nasce o sonho da terra produtiva. “As árvores são vida e cada planta que a gente põe na terra a gente tem que colocar na terra com o maior carinho, porque a terra é como uma mãe e gera vida”, comenta Jô.

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Projetos onde gênero, clima e oceanos se encontram

Projetos onde gênero, clima e oceanos se encontram

#ProduçãoTextual

Projetos onde gênero, clima e oceanos se encontram

ELABORAÇÃO: Jamille Nunes
PUBLICADO EM: 27 de setembro de 2021

Em encontro virtual entre GTs do Observatório do Clima, mulheres expõem intersecção entre gênero, clima e oceanos.

Narrativa Shanenawa

Ao falar de oceano e sua relação com o clima, algumas imagens se destacam no imaginário, a maioria delas envolvendo animais afetados pela ação humana. Mas as mudanças causadas no oceano afetam também a todas as pessoas, independentemente de onde elas estejam ou como sejam. 

O oceano nos provê benefícios em qualquer lugar do mundo que estejamos“, lembra Mariana Andrade, em um encontro virtual de mulheres dos GTs de Gênero e Clima e também de Oceano, do Observatório do Clima. “Reconhecer o oceano em nós e reconhecer a gente no oceano é “cultura oceânica”. É se conectar com ele morando próximo ou não da costa.”

Mariana adverte que um aspecto que aproxima os dois âmbitos – oceânico e climático – é a discussão de gênero. Embora as mulheres sejam peças-chave nas reflexões, pesquisas e soluções das crises em ambas as áreas, seus esforços são invisibilizados.

Por isso, momentos de aproximação como esse são tão importantes: servem também para reconhecer o que já está sendo feito. Neste encontro foram apresentadas algumas iniciativas que trabalham para conectar o oceano e o clima com atividades e projetos realizados por e para mulheres. Confira a seguir.

Mães do Mangue: manguezais como proteção ao aquecimento global

A campanha Mães do Mangue, realizada junto às comunidades costeiras do Pará, território onde está a maior área contínua de manguezais do planeta, mostra a importância dos mangues no controle das mudanças do clima. Seu ponto de partida são as histórias de vida das mulheres extrativistas e de suas famílias, que têm o ecossistema como lugar de orgulho e pertencimento.

Lígia Oliveira, da Purpose, uma das responsáveis pela campanha, explica que a ideia enfrentou alguns desafios. “Havia barreiras físicas: o manguezal é um ecossistema distante das pessoas. E as barreiras imaginárias: na cabeça das pessoas, o manguezal é um ambiente sujo, e elas não vêem conexão com a Amazônia. Ainda por cima, quando imaginam alguém coletando mariscos, vem a imagem de um homem.

Para fortificar uma visão positiva da vivência das mulheres no manguezal, as histórias focaram na importância da proteção do manguezal e também nas lideranças locais, para que sejam referências para a mídia ao falarem da Amazônia. A relação entre as comunidades e reservas extrativistas também foi estimulada, uma vez que as comunidades compartilham desafios semelhantes na conservação de ecossistemas marinhos e costeiros.

Dessa campanha, floresceram um sentimento de comunhão e de rede, minidocumentários e o livro “Cozinha da maré”, com receitas originárias dos manguezais. Com pratos, depoimentos e histórias, a publicação traz a memória alimentar e afetiva das mulheres extrativistas da região.

Liga das Mulheres pelo Oceano

A bióloga e conselheira da Liga das Mulheres Pelo Oceano, Natalia Grilli, também trouxe a trajetória da organização, nascida em março de 2019. Ainda que recente, a rede cresce a cada ano e abriga cada vez mais mulheres.

Em seus dois anos, já lançou campanhas digitais como o “Nossa Praia, Nossa Responsabilidade”, referente ao misterioso vazamento de óleo na costa nordestina; e mobilizou atletas de modalidades como natação, vela, surf, mergulho e vôlei para a campanha “A Gente Liga para o Oceano”, em um alerta sobre a poluição por lixo no mar.

Em uma abordagem mais artística, também trataram de temas não tão óbvios relacionados ao oceano e clima, como moda, alimentação, na campanha “Sente o clima e mergulhe nessa onda”. Fizeram episódios de podcasts, bate-papos com celebridades como Fernanda Lima, lambes e figurinhas de Whatsapp.

A Liga, atuando nas áreas de ciência, política e comunicação, integra esforços pela conservação do oceano e pela emancipação das mulheres. “Muitas vezes, as mulheres que promoviam trabalhos de conservação eram desconsideradas ou invisibilizadas nas divulgações”, lembra Natalia.

 Vozes do Mar: mulheres pescadoras

Graziela Blanco, da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, trouxe o projeto Vozes do Mar, para expandir e conectar vozes das pescadoras para enfrentar as mudanças climáticas.

Outro de seus objetivos é conectar as mulheres pescadoras de todas as regiões costeiras do Brasil, e assim fazer uma rede para a troca de experiências e aumento do alcance das dificuldades frente às mudanças climáticas e desigualdade de gênero.

Um trabalho em rede facilita o compartilhamento de saberes, uma vez que mulheres pescadoras têm desafios semelhantes e podem se auxiliar.

O projeto vai até 2022 e está em 4 regiões costeiras do Brasil. Atualmente, por conta da pandemia, essa rede de pesquisadoras, pescadoras e marisqueiras desenvolve suas estratégias e soluções virtualmente. E para quem quiser se envolver, ainda é possível contribuir com o projeto.

 

Você já conhecia esses projetos envolvendo mulheres, clima e oceano? Conhece outros? Conta para a gente em [email protected].

“Este conteúdo não representa, necessariamente, a opinião do Observatório do Clima ou de qualquer um de seus membros.”
Gênero e Clima

Jô Santin e o desejo da terra produtiva | Mulheres que Restauram

Integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Joscimar Marins Santin é a estrela do sexto episódio da Série Mulheres que Restauram por acreditar que é das mãos das mulheres que nasce o sonho da terra produtiva. “As árvores são vida e cada planta que a gente põe na terra a gente tem que colocar na terra com o maior carinho, porque a terra é como uma mãe e gera vida”, comenta Jô.

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Dona Helena e a vontade de ter um pedacinho de terra | Mulheres que Restauram

Dona Helena e a vontade de ter um pedacinho de terra | Mulheres que Restauram

#MulheresQueRestauram

Dona Helena e a vontade de ter um pedacinho de terra | Mulheres que Restauram

PUBLICADO EM: 24 de setembro de 2021

Há 35 anos trocamos um fusca pela terra que a gente mora hoje. Fizemos disso aqui nosso paraíso e hoje não troco essa terra nem por 20 fuscas”, é assim que começa a história de restauração de Helena de Jesus Moreira, a Dona Helena.

Dona Helena é do Maranhão, o marido é de Santa Catarina; depois de um namoro a distância firmaram residência em Cotriguaçu, Mato Grosso. “Quando chegamos aqui era tudo mato e nossa mentalidade na época, infelizmente, era derrubar todas as árvores, estávamos acostumados com o campo, então começamos a abrir espaço. Imaginávamos inclusive, que iríamos precisar comprar até o terreno dos vizinhos, porque a área do nosso ia ser pequena demais para nós dois” complementa Helena. 

Por sorte, e por uma indicação da Pastoral da Terra, Dona Helena acabou fazendo um curso de Agricultura Familiar oferecido por uma Escola Técnica da região. “A cada etapa do curso que eu ia concluindo eu me dava conta que a gente já tinha derrubado demais; que para sobreviver já tínhamos terra suficiente em cultivo”, informa Helena que depois de seis meses convenceu o marido a largar o emprego da cidade e viver só do cultivo da terra. “Hoje nós dois moramos, trabalhamos e vivemos dessa terra; temos liberdade, dinheiro e felicidade. E a floresta é abrigo de muitos animais… macacos, araras, nenhum bicho é triste aqui na minha terra”.

Óleo de babaçu, doce de buriti, castanha e açaí, estes são alguns dos produtos que Dona Helena tira da floresta que ela ajudou a restaurar. Além disso, ela coleta sementes das árvores que plantou e ajuda a manter um viveiro de mudas nativas no Município de Cotriguaçu. “Precisamos passar para os outros o conhecimento que adquirimos, e esse viveiro é uma das formas de fazer isso. Só a mãe natureza é capaz de nos garantir a vida, o bem-viver e o bem-estar”, comenta Helena que é uma das lideranças da APROFECO (Associação dos Produtores Feirantes de Cotriguaçu) e Conselheira Fiscal da REPOAMA (Rede de Produção Orgânica da Amazônia Mato-grossense), ambas parceiras do Instituto Centro de Vida (ICV) no âmbito do Projeto Valorizando Cadeias Socioprodutivas na Amazônia e do Projeto Agroecologia em Rede.

O projeto foi iniciado em 2018, tem apoio do Fundo Amazônia/BNDES, e atua diretamente com associações e cooperativas de agricultores familiares que trabalham em seis cadeias socioprodutivas – Castanha, Babaçu, Hortifrutigranjeiros, Leite, Cacau e Café, e estão distribuídos nos municípios do Norte (Alta Floresta, Paranaíta, Nova Monte Verde e Nova Bandeirantes) e Noroeste (Cotriguaçu e Colniza) do Mato Grosso.

As atividades estão vinculadas às diferentes etapas das cadeias (da produção ao consumo), no fortalecimento da gestão das organizações envolvidas, no incentivo à pesquisa e políticas públicas. O objetivo é que os grupos comunitários e suas práticas de produção sustentável sejam fortalecidos contribuindo para a melhoria da qualidade de vida dos agricultores e para a manutenção das florestas.

Este é o segundo capítulo da série Mulheres que Restauram. Uma iniciativa da Apremavi na #DécadaDaRestauração, realização do ICV e da Apremavi, com apoio do GT de Gênero e Clima do Observatório do Clima.

Mulheres que Restauram

Este é o segundo capítulo da série Mulheres que Restauram, lançada este ano, no Dia da Terra, com a história de Ercília Felix Leite.

Mulheres que Restauram é uma iniciativa da Apremavi na Década das Nações Unidas para a Restauração de Ecossistemas, com apoio do GT de Gênero e Clima do Observatório do Clima, e tem o objetivo de divulgar histórias de mulheres protagonistas na restauração e no planejamento de propriedades e paisagens, como forma de conscientizar a sociedade sobre a importância da atuação feminina na mitigação da crise do clima e promover o plantio de árvores nativas e a recuperação de áreas degradadas.

“Este conteúdo não representa, necessariamente, a opinião do Observatório do Clima ou de qualquer um de seus membros.”

Gênero e Clima

Jô Santin e o desejo da terra produtiva | Mulheres que Restauram

Integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Joscimar Marins Santin é a estrela do sexto episódio da Série Mulheres que Restauram por acreditar que é das mãos das mulheres que nasce o sonho da terra produtiva. “As árvores são vida e cada planta que a gente põe na terra a gente tem que colocar na terra com o maior carinho, porque a terra é como uma mãe e gera vida”, comenta Jô.

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As mulheres indígenas: roçadeiras e artesãs — Edital Sementes

As mulheres indígenas: roçadeiras e artesãs — Edital Sementes

#EditalSementes

As mulheres indígenas: roçadeiras e artesãs — Edital Sementes

PUBLICADO EM: 17 de setembro de 2021

Larissa Ye’padiho, mulher indígena do Alto do Rio Negro, conta como é a relação das mulheres com a terra.

mulheres indígenas

“As mulheres indígenas: roçadeiras e artesãs”

por Larissa Ye'padiho Mota Duarte - DMIRN/FOIRN | para Edital Sementes

Nós, mulheres indígenas representadas por 23 povos do Rio Negro. Nós vivemos da roça, caça, pesca e artesanato. A terra e a nossa casa, fazemos o nosso próprio manejo. Derrubamos as árvores para fazer a roça. Plantamos e colhemos; depois da colheita, as árvores crescem novamente, fazendo recomposição natural. Quando vamos pra roça, nós, mães indígenas, levamos as nossas filhas para acompanharem e aprenderem como se planta, cuida e colheita. Pois é daí que tiramos a nossa farinha, beiju, frutas e remédios caseiros. Enquanto isso, nossos maridos levam nossos filhos para o rio, para ensinar como se pesca. E nas matas, como caçar. Pegam o suficiente para o nosso sustento. 

Nós mulheres somos artesãs, com argila fazemos panelas de cerâmica; com cipó, balaios naturais; com arumã, cestas; com tucum, bolsas e redes; com as sementes, colares. É a nossa renda familiar, é o nosso sustento.

Através do benzimento, nós nos protegemos. Nós nos fortalecemos. Nas danças e cantos tradicionais, expressamos os sentimentos. Através de histórias, passamos nossos conhecimentos aos nossos filhos. Através das constelações, acompanhamos as estações do ano. Porém, com as mudanças climáticas, as coisas mudaram completamente. Tudo está confuso. É a ação ambiciosa do homem não-indígena, que quer destruir a natureza para saciar seus anseios. Ele quer poder, ele quer dinheiro. Mas acredito que nós mulheres, independente das diferenças, vamos ter que estar juntas para lutar, para resistir, para o bem-estar da nossa nova geração.

O Edital Sementes tem como objetivo destacar narrativas que interligam questões de gênero e clima e que normalmente não encontram vazão nos espaços institucionais. São relatos orais transcritos, narrativas tradicionais, poéticas e outros que, ao serem reconhecidos, ajudam a adiar o fim do mundo.

Alguns dos materiais passaram por edição ou adaptação para melhor clareza e melhor leitura, às vezes reduzindo seu tamanho original.

“Este conteúdo não representa, necessariamente, a opinião do Observatório do Clima ou de qualquer um de seus membros.”

Gênero e Clima

Jô Santin e o desejo da terra produtiva | Mulheres que Restauram

Integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Joscimar Marins Santin é a estrela do sexto episódio da Série Mulheres que Restauram por acreditar que é das mãos das mulheres que nasce o sonho da terra produtiva. “As árvores são vida e cada planta que a gente põe na terra a gente tem que colocar na terra com o maior carinho, porque a terra é como uma mãe e gera vida”, comenta Jô.

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A origem do fogo na floresta — Edital Sementes

A origem do fogo na floresta — Edital Sementes

#EditalSementes

A origem do fogo na floresta — Edital Sementes

PUBLICADO EM: 14 de setembro de 2021

A narrativa enviada por Erany explica, a partir da visão do povo Shanenawa, como surgiu o fogo na floresta.

A origem do fogo na floresta

"A origem do fogo na floresta"

por Edileuda Gomes de Araújo Shanenawa - Organização dos Professores Indígenas do Acre (OPIAC) | para Edital Sementes

Eu sou Edileuda, do povo Shanenawa. Meu nome na língua indígena é Erany. Eu trago aqui uma história do povo Shanenawa, que fala da origem do fogo na floresta.

No meio da floresta, morava um casal, que tinha um filho e criava um periquito. Certo dia o esposo dela saiu pra caçar, e no meio-dia nada do seu esposo voltar pra casa. Então ela fez o fogo pra fazer o mingau. Ela tinha um filho bebê e um periquito, e os dois choravam com fome, choravam bastante. O periquito chorava mais ainda que o seu bebê.

E ela com raiva da situação, dos dois, o periquito aperreando mais, ela disse “Ury xuqhua”, que quer dizer “sai daqui” e derrubou ele. No momento que ela empurrou o periquito, ele caiu no fogo e a brasa grudou no biquinho do periquito. O periquito voou e no que ele saiu voando para a floresta, com a brasa no bico, mais adiante a brasa caiu, no galho do cumaru.

E começou a pegar fogo por todo lado da floresta, e o fogo começou a se espalhar. E o seu esposo já estava voltando pra casa. Ele viu aquela fumaça e saiu correndo para as aldeias próximas, chamando seus parentes, que estava pegando fogo, ele dizia “vamos buscar uns pedaços de lenha, porque o tempo está se fechando, ventando muito” e começou a chover. Então todas as pessoas e animais se reuniram pra proteger o fogo.

Porque na floresta, antigamente, como a gente não tinha fogo pra quando apagasse fazer mais, eles queimavam bastante lenha pra não se apagar. E aí eles iam passando adiante. Então aquilo nunca se apagava. Por isso que ele chamou todos os parentes que morava longe. E como antigamente a história diz que os animais também falavam, ele convidou todos os animais, e todos foram buscar seus pedaços de lenha. Somente o urubu chegou por último, e quando ele chegou, já não tinha mais fogo, só tinha cinzeiro. O urubu pisou nas cinzas e por isso que até hoje a perna do urubu é cinzenta.

O Edital Sementes tem como objetivo destacar narrativas que interligam questões de gênero e clima e que normalmente não encontram vazão nos espaços institucionais. São relatos orais transcritos, narrativas tradicionais, poéticas e outros que, ao serem reconhecidos, ajudam a adiar o fim do mundo.

Alguns dos materiais passaram por edição ou adaptação para melhor clareza e melhor leitura, às vezes reduzindo seu tamanho original.

“Este conteúdo não representa, necessariamente, a opinião do Observatório do Clima ou de qualquer um de seus membros.”

Gênero e Clima

Jô Santin e o desejo da terra produtiva | Mulheres que Restauram

Integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Joscimar Marins Santin é a estrela do sexto episódio da Série Mulheres que Restauram por acreditar que é das mãos das mulheres que nasce o sonho da terra produtiva. “As árvores são vida e cada planta que a gente põe na terra a gente tem que colocar na terra com o maior carinho, porque a terra é como uma mãe e gera vida”, comenta Jô.

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A história dos jabutis — Edital Sementes

A história dos jabutis — Edital Sementes

#EditalSementes

A história dos jabutis — Edital Sementes

PUBLICADO EM: 09 de setembro de 2021

A narrativa enviada por Iracilda, ou Samy em sua língua indígena, explica como os jabutis se tornaram os animais que conhecemos hoje.

Narrativa Shanenawa

“A história dos jabutis”

por Iracilda Gomes de Araújo Shanenawa - Organização dos Professores Indígenas do Acre (OPIAC) | para Edital Sementes

Meu nome em português é Iracilda Gomes de Araújo Shanenawa. Na língua indígena me chamo Samy. Sou do povo Shanenawa, moro na Aldeia Morada Nova. Eu vou contar a história do Jabuti, que na história conta que o jabuti andava em bando.

Então, certo dia eles estavam brincando no meio da floresta, se balançando no cipó. E quando chegou uma onça, querendo brincar com eles, e eles não aceitaram. E aí a onça insistiu, até que eles deixaram a onça se balançar também. E a onça se balançando, se espinhou todinha numa árvore cheia de espinho, que é chamada murmuru. E morreu. E os jabuti pegaram a onça, se dividiram em pedaço. Cada um deles ficaram com um pedaço da onça. Então quando eles fizeram o muquém, chamado huraku, que é a carne da onça enrolada na folha. E aí eles voltaram a balançar de novo, brincar. Eles tavam muito alegre, cantando, gritando. E diziam assim “kuru pashkara, unu pashkara”. Eles tavam muito alegre. E aí chegou a outra onça perguntando pra eles o que era aquilo que eles tinham feito o muquém. Aquele enrolado na folha, o que era. Eles falaram que não era nada, aí a onça foi e tomou.

Tomou o muquém, e era a carne da onça enrolada na folha. E ele viu a carne da onça e falou “vocês mataram minha família, agora eu vou matar vocês também”. E a onça começou a pegar de um por um, arrancando a cabeça deles. E os jabutis eram muito inteligentes. Quando a onça arrancou a cabeça deles todinha, a onça foi embora. Quando chegou o marimbondo, perguntando o que tinha acontecido com eles, eles falaram que tinha sido a onça que tinha arrancado a cabeça deles. E aí ele disse “eu vou colar vocês”, e colou. Mas ao invés de colar do jeito que era, colou a cabeça dele da frente pra trás. Então o jabuti ficou com a cabeça da frente pra trás. Não ficou mais normal como era. E o jabuti acabou de andar em bando. Todos se espalharam. Não ficaram mais em bando. Então a história do jabuti conta que o jabuti andava em bando e era inteligente. Então o fim da história conta que o jabuti ficou com a cabeça da frente pra trás.

O Edital Sementes tem como objetivo destacar narrativas que interligam questões de gênero e clima e que normalmente não encontram vazão nos espaços institucionais. São relatos orais transcritos, narrativas tradicionais, poéticas e outros que, ao serem reconhecidos, ajudam a adiar o fim do mundo.

Alguns dos materiais passaram por edição ou adaptação para melhor clareza e melhor leitura, às vezes reduzindo seu tamanho original.

“Este conteúdo não representa, necessariamente, a opinião do Observatório do Clima ou de qualquer um de seus membros.”

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Jô Santin e o desejo da terra produtiva | Mulheres que Restauram

Integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Joscimar Marins Santin é a estrela do sexto episódio da Série Mulheres que Restauram por acreditar que é das mãos das mulheres que nasce o sonho da terra produtiva. “As árvores são vida e cada planta que a gente põe na terra a gente tem que colocar na terra com o maior carinho, porque a terra é como uma mãe e gera vida”, comenta Jô.

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Narrativa Shanenawa do canoeiro — Edital Sementes

Narrativa Shanenawa do canoeiro — Edital Sementes

#EditalSementes

Narrativa Shanenawa do canoeiro — Edital Sementes

PUBLICADO EM: 06 de setembro de 2021

A história enviada por Maria, mulher do povo indígena Shanenawa, da aldeia Morada Nova, sobre troca de saberes e comunicação com a natureza.

Narrativa Shanenawa

“Narrativa Shanenawa do canoeiro”

por Maria Abijicelia Brandão da Silva Shanenawa - Organização dos Professores Indígenas do Acre (OPIAC) | para Edital Sementes

Sou Maria Brandão da Silva. Meu nome na língua indígena é Matsianeh, pertenço ao povo Shanenawa, moro na aldeia Morada Nova. Sou artesã, professora da minha aldeia. 

E vou contar a história que sempre ouvi minha vó falando, me ensinando, contando para mim e para os outros meus primos, quando era noite. Se chama Poá.

Essa história é assim: no meio da floresta, tinha uma família, e eles passavam muita necessidade. Eles saíam para pescar, caçar e não encontravam nada. Eles junto com sua família moravam no meio da aldeia, e no meio da aldeia outras pessoas moravam também. Eles saíam para pescar, para caçar, mas não traziam nada para sua casa. E seus filhos continuavam com fome. Mas teve um dia que eles saíram pra caçar e encontraram um sapo. 

Esse sapo se chama “canoeiro”, o nome dele. Então eles conheceram ele, e ele falou assim. “Olha, a partir de hoje, vocês nunca mais vão passar fome. Eu te dou essa palheta para vocês e vocês vão colocar a panela no fogo, colocar água e vão mexer com essa paieta. Quando vocês mexerem a paieta, vocês vão pensar em algo. Se é peixe, vão pensar no peixe e vão mexendo com eles. Quando vocês forem mexendo, vai aparecendo o peixe para vocês. Mas tem uma coisa. Vocês não podem dizer pra ninguém.”

Então eles voltaram pra sua casa, chegando lá fizeram fogo, colocaram a panela dentro, colocaram água e começaram a mexer. Então aconteceu o que o sapo tinha falado. Eles continuaram ali mexendo e no momento que eles iam mexendo, ia aparecendo. Então a partir daquele dia, eles nunca mais passaram fome. Mas toda vez que eles iam mexer, colocavam a paieta dentro da panela e mexia, mexia. Aí teve um dia, que eles já tavam tão acostumados, que se esqueceram. Aí teve um dia que um parente foi lá passear neles, perguntou o que é que eles faziam que não tavam mais passando fome. Aí a mulher foi lá, “Ah, o canoeiro me deu essa paieta, agora nós não passamos mais fome”. No outro dia, quando ela começou a mexer a paieta na panela, não apareceu mais nada. Porque o canoeiro tinha feito um segredo pra eles, tinha feito a magia porque eles passavam necessidade.

Então, temos que aprender a confiar uns nos outros. Às vezes as pessoa nos ajudam para fazer o nosso bem, quer nos ajudar para nos fazer bem, quer nos ajudar para ver a nossa felicidade, pra nós viver em paz com nossas famílias, nossos filhos, mas acabamos falando nosso segredo. Então essa é a história do canoeiro.

O Edital Sementes tem como objetivo destacar narrativas que interligam questões de gênero e clima e que normalmente não encontram vazão nos espaços institucionais. São relatos orais transcritos, narrativas tradicionais, poéticas e outros que, ao serem reconhecidos, ajudam a adiar o fim do mundo.

Alguns dos materiais passaram por edição ou adaptação para melhor clareza e melhor leitura, às vezes reduzindo seu tamanho original.

“Este conteúdo não representa, necessariamente, a opinião do Observatório do Clima ou de qualquer um de seus membros.”

Gênero e Clima

Jô Santin e o desejo da terra produtiva | Mulheres que Restauram

Integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Joscimar Marins Santin é a estrela do sexto episódio da Série Mulheres que Restauram por acreditar que é das mãos das mulheres que nasce o sonho da terra produtiva. “As árvores são vida e cada planta que a gente põe na terra a gente tem que colocar na terra com o maior carinho, porque a terra é como uma mãe e gera vida”, comenta Jô.

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Relatos “O convívio entre duas pandemias” — Edital Sementes

Relatos “O convívio entre duas pandemias” — Edital Sementes

#EditalSementes

Relatos “O convívio entre duas pandemias” — Edital Sementes

PUBLICADO EM: 02 de setembro de 2021

As falas de Pekãshaya Shanenawa, ou Edina, mostram o impacto da mudança climática e da pandemia sobre mulheres indígenas do seu povo, no Acre

Narrativa Shanenawa

Pekãshaya Shanenawa foi a primeira cacica do povo Shanenawa. Suas falas, presente no arquivo do link abaixo, foram coletadas de palestras, eventos, webinários e lives em que ela participou, principalmente durante o ápice da pandemia.

Por causa das mudanças climáticas que tá havendo mudanças nas plantações. Nunca tinha tido friagem no mês de novembro e teve no mês de novembro no estado do Acre, então a mudança climática está muito forte no nosso estado do Acre, que tá afetando nossa segurança alimentarm”, ela declara. “Essa época era mês de colher várias frutas e legumes, e hoje ou eles morreram, tá perdendo semente ou agora que eles tão nascendo, então tá mexendo muito com nossa sobrevivência, segurança alimentar, nosso território. Ali dentro do nosso território tá o nosso saber também, nossa ciência, porque hoje pra ter nossa ciência para conversar com a mãe natureza para que ela possa liberar nosso plantio para nossa segurança alimentar.

O objetivo é levar os ensinamentos de Pekãshaya Shanenawa sobre suas preocupações e ensinamentos relacionados às mudanças climáticas e suas consequências para as mulheres indígenas.

Este esforço de coleta coletivo foi organizado pelo Instituto Fronteiras, organização sem fins lucrativos que atua no Vale do Juruá e que trabalha em cooperação com o povo Shanenawa desde 2018. com o intuito de fortalecer e contribuir na luta dos povos da floresta.

Acesse aqui o arquivo com as falas de Pekãshaya, “O impacto das mudanças climáticas na vida das mulheres Shanenawa: o convívio entre duas pandemias.”

O Edital Sementes tem como objetivo destacar narrativas que interligam questões de gênero e clima e que normalmente não encontram vazão nos espaços institucionais. São relatos orais transcritos, narrativas tradicionais, poéticas e outros que, ao serem reconhecidos, ajudam a adiar o fim do mundo.

Alguns dos materiais passaram por edição ou adaptação para melhor clareza e melhor leitura, às vezes reduzindo seu tamanho original.

“Este conteúdo não representa, necessariamente, a opinião do Observatório do Clima ou de qualquer um de seus membros.”

Gênero e Clima

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Integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Joscimar Marins Santin é a estrela do sexto episódio da Série Mulheres que Restauram por acreditar que é das mãos das mulheres que nasce o sonho da terra produtiva. “As árvores são vida e cada planta que a gente põe na terra a gente tem que colocar na terra com o maior carinho, porque a terra é como uma mãe e gera vida”, comenta Jô.

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Mulheres e a recuperação econômica: a questão de gênero no centro das soluções

Mulheres e a recuperação econômica: a questão de gênero no centro das soluções

#ProduçãoTextual

Mulheres e a recuperação econômica: a questão de gênero no centro das soluções

ELABORAÇÃO: Aline Souza*

PUBLICADO EM: 30 de agosto de 2021

O enfrentamento à desigualdade de gênero pode diminuir também as desigualdades sociais e ajudar na recuperação econômica do país

Mulheres e a recuperação econômica

A relação entre desigualdade de gênero e desigualdade social, para muitos, parece não ter conexão. No entanto, discutir e evidenciar esses contextos sociais é importante, assim como ter coragem de enfrentar o que as origina e as organiza como opressão: o capitalismo enquanto modelo de sociedade. Antes que se espantem, já respondo: não tenho as respostas. No entanto, existem várias saídas possíveis que, se combinadas, poderão dar certo.

Alguns dados recentes divulgados pela Oxfam em sua série intitulada “Nós e as desigualdades”, de 2021, mostram alguma evolução no Brasil nos últimos tempos, mas ainda estamos engatinhando. Quando paramos para refletir sobre as possibilidades de uma nova economia e os direitos humanos, alguns dados chamam atenção.

  • 86% das pessoas entrevistadas acreditam que é importante reduzir a desigualdade de renda entre ricos e pobres, e o Estado tem um papel fundamental para realizar isto por meio de políticas públicas concretas;
  • 56% das pessoas concordam em pagar mais impostos para financiar políticas sociais (creches públicas, postos de saúde e amplo apoio à universalização dos serviços públicos). Essa opinião é compartilhada por 25% a mais de pessoas do que em 2019, e é a primeira vez que isso acontece desde o início do monitoramento;
  • A pesquisa apontou um aumento de 13% na opinião das pessoas que acreditam em um sistema progressivo de tributação, ou seja, de taxar mais os ricos, se comparada à opinião dada em 2017 (71%) e em 2020 (84%);
  • 52% das pessoas acreditam que a linha da pobreza está acima de uma renda de R$1.000 e que abaixo disso é onde mora a pobreza. Ou seja, uma renda entre 1 mil e 2 mil é ser pobre no Brasil. Entretanto, o Banco Mundial indica uma renda de R $300 como o limite para a linha da pobreza.

O que faz alguém ser “bem de vida”?

No geral, as pessoas mapeadas na pesquisa da Oxfam se acham pobres, apesar de receberem até cinco salários mínimos. A pesquisa mostrou também uma relação entre educação, fé e religião: os três são pré-requisitos para os brasileiros obterem uma melhora de vida. Em anos anteriores da série, em 2017 e 2019, a fé religiosa era algo muito decisivo na melhora de vida. A educação não aparecia citada nas respostas dos entrevistados. Hoje, na opinião das pessoas, depois de educação, fé e religião, temos a saúde como item de avanço na melhora da vida.

Gênero, raça e autonomia econômica

Ainda segundo a pesquisa da Oxfam:

  • Mais de 75% da população entrevistada admite a existência do racismo institucional;
  • 86% discordam que o papel da mulher é ficar em casa cuidando dos filhos. Ufa!

Por outro lado, parece que ainda não caiu a ficha para a relação intrínseca entre as desigualdades sociais e o “papel da mulher”. Melhor dizendo, entre o empobrecimento econômico de um país e suas famílias com a divisão desigual do trabalho doméstico e com a escassez de tempo feminino.

Um debate recente realizado pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), a ONU Mulheres e a Fundação Friedrich Ebert (FES Brasil) apresentou um relatório interessante sobre como o papel das mulheres desempenhado com as atividades do cuidar – a elas atribuídas – é preponderante para a economia capitalista. O documento discute a dimensão de gênero no contexto da abordagem do grande impulso (ou Big Push) para a Sustentabilidade no país.
Baseado em evidências, o relatório oferece subsídios para a formulação de uma estratégia de recuperação econômica com igualdade e sustentabilidade. A promoção, a partir de investimentos sustentáveis, de oportunidades de emprego e renda para as mulheres, consideradas na sua diversidade, e da melhoria da disponibilidade e da qualidade de serviços de cuidado, libera o tempo das mulheres e contribui para sua autonomia econômica.

Algumas mulheres representantes de ministérios da economia dos países latinos convidados para o debate ressaltaram que a recuperação econômica com sustentabilidade deve envolver a igualdade de gênero nas políticas públicas e na condução econômica dessas políticas.

Alguns dos principais pontos debatidos:

  • Emprego: é importante subverter o entendimento de gerar emprego. Não se trata apenas de fomentar setores da construção civil. Abrir empregos nos setores da indústria, transporte e energia renovável para que as mulheres possam ocupá-los é fundamental. De acordo com os dados apresentados, 1 a cada 100 pessoas da construção civil é mulher e menos de 12% das mulheres trabalham na área de energia renovável. Ou seja, precisamos com urgência “feminilizar” os empregos desenvolvendo estratégias e capacitação para que mulheres possam ocupar espaços de tecnologia e empregos verdes;
  • Escassez / pobreza de tempo feminino: é apontado como a principal causa das desigualdades econômicas, pois enquanto as mulheres, que são as principais responsáveis pela geração de renda dos lares do Brasil e da América Latina, forem sobrecarregadas com trabalho doméstico, elas não terão tempo para investir em capacitação profissional. Assim, a mobilidade social de suas famílias não ocorrerá, perpetuando assim o quadro de desigualdades;
  • No plano de descarbonização de frotas urbanas para transporte público de muitos países na América Latina ocorre a falta de mão de obra e na Costa Rica as mulheres são minoria na condução de veículos de transporte público (somente 4,5% são mulheres aptas para conduzir os veículos e 95% são homens). A maioria de empresas de frotas urbanas são familiares;

Uma nova consciência para uma nova economia

O mundo todo está conectado e precisamos entender como viver nesse planeta de modo responsável. É preciso uma completa transformação no estilo de desenvolvimento econômico e de fato transformar o que a gente conhecia até então como política pública emancipatória. Não podemos mais voltar ao que éramos antes da pandemia. Ou seja, precisamos inverter a lógica adotada até hoje e promover uma recuperação de caráter novo. A crise climática não é uma crise do futuro. A chave para a sustentabilidade econômica é promover empregos para as mulheres.

A igualdade entre homens e mulheres em direitos e deveres passa por essa mudança de mentalidade e de prática. Se outrora o combate à corrupção era uma prioridade para os brasileiros, hoje essa prioridade é emprego, saúde e combate ao racismo, já podemos perceber que a população é capaz de enxergar de modo diferente alguns aspectos sociais que não via antes, como mostrou a pesquisa da Oxfam. Sem dúvidas, boas lideranças e instituições responsáveis que informam e conduz ao esclarecimento fazem a diferença. Um país afirmativo é um país que almeja um futuro inclusivo e próspero a longo prazo.

 

*Aline Souza é jornalista, ativista dos direitos humanos e comunicadora no Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS Brasil)

“Este conteúdo não representa, necessariamente, a opinião do Observatório do Clima ou de qualquer um de seus membros.”

Jô Santin e o desejo da terra produtiva | Mulheres que Restauram

Integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Joscimar Marins Santin é a estrela do sexto episódio da Série Mulheres que Restauram por acreditar que é das mãos das mulheres que nasce o sonho da terra produtiva. “As árvores são vida e cada planta que a gente põe na terra a gente tem que colocar na terra com o maior carinho, porque a terra é como uma mãe e gera vida”, comenta Jô.

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Enchentes, deslizamentos, falta de água: como a crise climática chega nas mulheres periféricas

Enchentes, deslizamentos, falta de água: como a crise climática chega nas mulheres periféricas

#ProduçãoTextual

Enchentes, deslizamentos, falta de água: como a crise climática chega nas mulheres periféricas

ELABORAÇÃO: Jamille Nunes

REVISÃO: Mariana Belmont
PUBLICADO EM: 25 de agosto de 2021

A narrativa ambiental e da mudança climática é facilmente associada às comunidades do campo, mas ela também atinge mulheres periféricas da cidade.

Enchentes

Tempestades, enchentes e deslizamentos impactam intensamente as periferias urbanas, que possuem infraestrutura precária. Esses eventos são noticiados na televisão e nos jornais como fatos arbitrários, quando na verdade são sinais de que já vivemos as consequências de uma sociedade desigual, agravadas pela mudança climática.

Famílias com as mais diversas composições são vítimas desses desastres, mas é sobre os ombros das mulheres periféricas que recai a responsabilidade de fazer o trabalho de cuidado, ao mesmo tempo em que se tornam vulneráveis a violências de gênero.

Mulheres periféricas são as cuidadoras da família

Estes eventos aumentam o número de pessoas doentes e feridas nas comunidades periféricas e favelas. Além disso, frequentemente as vítimas ficam sem acesso à água potável e alimentos. Nesse cenário, cabe às mulheres a preocupação e o deslocamento para conseguir insumos e fornecimento de água, como aponta o relatório da CEPAL.

Quando eventos extremos e desastres forçam suas vítimas a deixarem as moradias permanentemente, as mulheres periféricas não só perdem a casa, como também a rede de apoio – a vizinhança com quem muitas vezes dividem os trabalhos de cuidado das crianças, por exemplo.

Dessa forma, os trabalhos domésticos, não-remunerados, socialmente vistos como algo natural à mulher, causam uma sobrecarga física e mental, além de uma pressão e compromisso com o bem-estar da família.

As mulheres periféricas têm cor: negra

A população periférica é, em sua maioria, negra. Viver na periferia significa mínimo ou nenhum acesso aos principais equipamentos públicos da cidade, o que causa uma diferença visível em relação às pessoas que moram em regiões centrais quando falamos da saúde (as adolescentes negras periféricas registram os maiores índices de gravidez) e na alimentação (têm mais dificuldade de acessar alimentos saudáveis do que quem mora no centro).

Ainda segundo o relatório da CEPAL, as mulheres em situação de pobreza, muitas vezes mulheres negras, chefes de família, têm menos tempo disponível para educação e capacitação. Isso prejudica as possibilidades de gerar renda ou conseguir empregos bem remunerados. Assim, as mudanças climáticas reforçam a escassez de tempo das mulheres para atividades além das domésticas, de cuidado e reprodução – sendo essas invisíveis, não-remuneradas e que não lhe permitem o autocuidado.

Falta de estrutura das periferias se agrava com as mudanças climáticas

A precariedade da infraestrutura das periferias urbanas e favelas agrava os riscos de saúde e a fragilidade financeira dos seus moradores.

Como esses locais frequentemente possuem sistemas de esgotamento sanitário inseguros, isso apresenta efeitos diretos na qualidade de vida das mulheres, meninas e populações vulneráveis.

A falta de água tratada aumenta a incidência de infecções gastrointestinais. Mesmo quando há acesso à água tratada, a coleta de esgoto inconsistente enfraquece as condições de saúde, ocasionando também doenças transmitidas por vetores (mosquitos e animais).

A mobilidade é outra questão. Segundo o IBGE, cerca de 20% do orçamento doméstico das famílias que sobrevivem com até dois salários é comprometido com transporte (IBGE, 2020). A baixa disponibilidade de transporte público diminui o acesso da população a oportunidades de trabalho, transporte, saúde e educação nos centros urbanos do país.

Mulheres periféricas à frente da solução

Ainda que sejam muitas vezes abandonadas pelo poder público, as periferias, com seu senso de comunidade e coletividade, são também lugares onde fervilham soluções.

Alguns exemplos de iniciativas de impacto ambiental liderados por mulheres são a Patrulhinha da Limpeza em Rio das Pedras, criada, bancada financeiramente e liderada por Cleusa Florença, e Favela Orgânica de Regina Tchelly.

A primeira foi divulgada ainda em 2013, pela O Globo. Moradora da favela por décadas, mesmo na época trabalhando em salão e barraca de pastel, Cleusa investia 240 reais por mês para que crianças fiscalizassem os vizinhos a não jogar lixo na rua, com apito e uniformes. A diminuição de lixo nas ruas reduz o risco de doenças e promove a educação ambiental. A eficiência da ação foi reconhecida pela Comlurb e Secretarias Municipais de Educação e Meio Ambiente.

Já a Favela Orgânica de Regina ensinou a cozinhar sem desperdício de alimentos, com aulas de culinária e ensinando sobre as pequenas hortas nos quintais dos moradores. O objetivo é cuidar do meio ambiente e mudar a relação com a alimentação, sem gastar mais.

Essas iniciativas mostram como as mulheres periféricas possuem visão do que precisa ser melhorado e, com apoio e escuta de parceiros qualificados, suas ideias são parte da solução de enfrentamento à crise climática. Ouvi-las, valorizar suas ações e trocar saberes são caminhos que abrem a elas mais chances de segurança diante dos impactos da mudança climática.

Você sabe quais são as demandas das mulheres periféricas da sua região?

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Integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Joscimar Marins Santin é a estrela do sexto episódio da Série Mulheres que Restauram por acreditar que é das mãos das mulheres que nasce o sonho da terra produtiva. “As árvores são vida e cada planta que a gente põe na terra a gente tem que colocar na terra com o maior carinho, porque a terra é como uma mãe e gera vida”, comenta Jô.

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Narrativa Shanenawa “A ratinha que ensinou a mulher a fazer partos” — Edital Sementes

Narrativa Shanenawa “A ratinha que ensinou a mulher a fazer partos” — Edital Sementes

#EditalSementes

Narrativa Shanenawa “A ratinha que ensinou a mulher a fazer partos” — Edital Sementes

PUBLICADO EM: 16 de agosto de 2021

A história abaixo foi enviada por Edilene, mulher do povo Shanenawa, explicando como o conhecimento tradicional dos partos veio através dos bichos

Narrativa Shanenawa

“A ratinha que ensinou a mulher a fazer partos”

por Edilene Machado Barbosa - Organização dos Professores Indígenas do Acre (OPIAC) | para Edital Sementes

Essa história é contada no povo tradicional Shanenawa, da terra indígena Katukina-Kaxinawa no município de Feijó. Meu nome é Edilene Machado, meu nome indígena é Pakakuru. Pakakuru significa resistência, taboca verde.

Há uma narrativa tradicional do povo Shanenawa, que os antigos contavam, que todas as mulheres que engravidavam acreditavam que iriam morrer. Porque havia apenas uma mulher que sabia fazer o parto. Mas em todos os partos, ela tirava o fígado da mãe, pra comer com pão de milho e sempre falava para os seus maridos que elas tinham morrido durante o parto. Por esse motivo, todas as mulheres indígenas ficavam com muito medo. As mulheres sempre morriam, deixando seus filhos para serem criados exclusivamente pelos pais.

Segundo os mais velhos, a ratinha Panakti que descobriu o segredo dessa primeira parteira, ensinando as mulheres que tinha outro jeito de fazer o parto. Daí a ratinha também recomendou às mulheres Shanenawa diversos cuidados e dietas, como não comer bodó, tapioca, não deixar o marido sair à noite e chegar para assustar a criança, não comer mandim, não deixar a criança ser vista antes de um mês.

A ratinha também teria recomendado às mulheres Shanenawa os cuidados e a dieta. Elas teriam passado a seguir.

O objetivo dessa história é refletir sobre a relação entre as mulheres e os mitos, para mostrar como diversos conhecimentos especificamente femininos foram dados às mulheres por seres não-humanos. E dentro desse conhecimento, as mulheres Shanenawa até hoje utilizam os saberes milenares ancestrais, que foram passados de geração em geração.

No Acre, as mudanças climáticas estão grandes, devido ao desmatamento e à falta de mata ciliar. As mulheres seguem plantando seus roçados, fazendo suas dietas, plantando, colhendo e tendo bem-viver. Cuidando dos seus filhos e crianças. Até hoje elas conseguem manter essa tradição.

O Edital Sementes tem como objetivo destacar narrativas que interligam questões de gênero e clima e que normalmente não encontram vazão nos espaços institucionais. São relatos orais transcritos, narrativas tradicionais, poéticas e outros que, ao serem reconhecidos, ajudam a adiar o fim do mundo.

Alguns dos materiais passaram por edição ou adaptação para melhor clareza e melhor leitura, às vezes reduzindo seu tamanho original.

“Este conteúdo não representa, necessariamente, a opinião do Observatório do Clima ou de qualquer um de seus membros.”

Gênero e Clima

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Integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Joscimar Marins Santin é a estrela do sexto episódio da Série Mulheres que Restauram por acreditar que é das mãos das mulheres que nasce o sonho da terra produtiva. “As árvores são vida e cada planta que a gente põe na terra a gente tem que colocar na terra com o maior carinho, porque a terra é como uma mãe e gera vida”, comenta Jô.

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